(The Hoax, EUA, 2007)
Filme divertido, com toques dramáticos, dirigido com muita leveza e elegância por Lasse Halsström (dos ótimos Minha Vida de Cachorro, Gilbert Grape, Regras da Vida e Casanova) que conta a história (baseada em fatos reais) de como o escritor Clifford Irving (Richard Gere) armou e encenou uma fraude daquelas no mundo editorial nos EUA dos anos 70. Morando num bangalô com a mulher artista (Márcia Gay Harden), sem dinheiro e humilhado com a súbita recusa da poderosa editora McGraw-Hill em publicar o seu próximo livro, ele inventa, com a ajuda de seu amigo e pesquisador Dick Suskind (Alfred Molina, ótimo) ter sido convidado por Howard Hughes em pessoa para escrever a biografia do excêntrico milionário aviador, forjando memorandos escritos e assinados por Hughes, pelos quais consegue convencer a sua editora (Hope Davis) e todo o staff da McGraw-Hill e arrancar um bom adiantamento para levar adiante o “projeto”. Em seguida, algo semelhante é anunciado pela Time-Life e, aos poucos, a mentira vai ganhando ares de verdade e, sobretudo, notoriedade, e ele, com muita lábia e sangue frio, engana não só os editores, como o público, os jornalistas e até o governo do presidente Richard Nixon. Além de arrancar muito mais dinheiro, claro. Certa feita, com incrível cara-de-pau, capaz de deixar as mulheres da platéía furiosas, engana até a sua esposa, quando ela descobre seu affair com uma antiga paixão (Julie Delpy). Porém, em meio a inúmeras complicações em que vai se metendo e nelas se enrolando e cada vez mais obcecado com a história da figura retratada, ele mesmo vira uma espécie clone do paranóico Howard Hughes, neste filme que demonstra que a mentira, da mesma forma que em F for Fake, de Orson Welles, também é uma forma de arte, pois rende boas estórias, afinal escritor sempre tem que ter um pouco de mentiroso ou de “fingidor”, como diria Fernando Pessoa. Gere é aqui muito dos dois. E a excentricidade exacerbada do recluso Hughes, com suas manias vistas mais detidamente no subestimado O Aviador, de Martin Scorsese, torna-o sem dúvida um personagem mais estranho que a ficção. Em suma, bem agradável.
2 comentários:
vi esse filme ontem. fiquei incomodado com a coragem do doido de inventar uma farsa dessas, tão fácil de ser descoberta..
Pois é, o pior é que acreditaram nele. Talvez às vezes as pessoas insistam em crer no improvável, mas do que a gente imagina. É uma das questões que o filme levanta, penso.
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