segunda-feira, setembro 24, 2007

Ligeiramente Grávidos

(Knocked Up, EUA, 2007)



A grande sacada deste ótimo filme de Judd Apatow (do também ótimo O Virgem de 40 Anos) é fazer nos importar a cada minuto com os dois personagens principais, tão diferentes entre si, aparentemente tipos banais de comedinhas românticas insossas ou estereótipos de filmes de fraternidade, mas à medida que a projeção avança, vai além da superfície dos tipos retratados, moldando-os como seres de fato mais humanos, cheios de falhas, neuroses, graça, grosseria, alguma doçura e nenhuma afetação. E também fazer descobrir no diferente o quanto ele pode ser igual a você, mesmo sem nenhuma afinidade aparente.

Na trama, ele (Seth Rogen), um típico loser, feio, gordo, há anos sem trabalhar ou fazer qualquer coisa que preste, prefere passar o dia fumando maconha ou enchendo a cara na companhia dos amigos nerds, vivendo dos centavos que ainda recebe de uma indenização por um acidente sofrido há anos no Canadá. Ela (Katherine Heigl), loira, bela, com uma carreira promissora na televisão, mas que, numa noite de bebedeira, “se jogando numa balada”, para comemorar uma promoção, casualmente se aproxima dele, e a toda bem-sucedida e arrumadinha moça wasp acaba engravidando (“knocked up”) do judeu loser e desalinhado. Dois meses depois, se vê obrigada a se reaproximar dele, já que decide ter o filho, mesmo que isso ponha em risco a sua carreira, e a partir daí (e mais complicado) construir a improvável relação, cheia de rusgas, altos e baixos, mas de calor humano também. E as diferenças se mostram cada vez menores à medida que a relação vai naturalmente se construindo, ainda que com certos trancos, sem ilusões de príncipe encantado ou amor a primeira vista ou idealizações de uma família sentada na mesa como num comercial de Doriana, num filme longo, que é cheio de piadas grosseiras, sim, que muitas vezes apresenta situações comuns de comédias românticas também, mas que graças a Judd Apatow, às sacadas pop dos diálogos inteligentes e aos dois ótimos protagonistas, nos faz rir e chorar ou as duas coisas ao menos tempo, mesmo durante as suas irregulares e cheias de arestas duas horas e pouco de duração. E como bônus também há a ótima química entre Seth Rogen e Paul Rudd, aqui como o seu concunhado um tanto desiludido e se sentindo sufocado pela esposa controladora, coisa que as mulheres fazem muuuito bem, e que não deixam de repetir a hilária dupla de O Virgem de 40 Anos.

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