(Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street, EUA, 2007)
Edward Mãos-de-Tesoura cresceu, perdeu a inocência, trocou as tesouras por navalhas afiadíssimas e os coloridos salões de beleza dos limpos e ordenados subúrbios americanos por uma horripilante barbearia na imunda Londres hiperdickensiana do século XIX, com ruas estreitas e ecos de Gotham City. Nesta barbearia na Fleet Street, além de aparar as barbas e as costeletas, trata também de sangrar seus clientes, como bem faziam os barbeiros de antigamente. Porém, sangra-os até demais e, com a ajuda da adorável Ms. Lovett (Helena Bonham Carter), transforma tudo em picadinho, que, graças a esse novo ingrediente, fazem das tortas dela, servidas à freguesia no melhor estilo Titus Andronicus, um grande sucesso na vizinhança. Tudo porque Edward, ou melhor Benjamin Barker, após 15 anos, retorna a Londres para se vingar do juiz (Alan Rickman) que o sentenciou injustamente à prisão na Austrália, raptou a sua filha e destruiu a vida de sua esposa. Com um novo nome, Sweeney Todd (Johnny Depp, ótimo), e em busca de uma nova clientela, parte para uma requintada vingança nos moldes do bom e velho teatro grand guignol de antigamente. Ou seja, com gargantas cortadas, sangue jorrando adoidado num tom mais do que avermelhado, em forte contraste com o cinza dos ambientes escuros de Londres, dedos decepados e pernas amputadas. Antes, canta em inspirados duetos sua vingança não só contra o juiz, mas contra o mundo. Sim, canta, pois barbeiros cantavam desde a ópera de Rossini, O Barbeiro de Sevilha, aos quartetos vocais de barbearia celebrizados no musical O Vendedor de Ilusões, de Meredith Wilson, neste filme que é todo ele também um musical de tons sombrios à maneira expressionista de Tim Burton que, fiel aos seus tipos desajustados de bom coração e baseando-se no espetáculo da Broadway composto por Stephen Sondheim (West Side Story), faz um de seus trabalhos mais deliciosamente macabros e de extraordinário requinte visual e também “visceral”, claro.
4 comentários:
Gostei da certa semelhança e comparação de Edward Scissorhands com Sweeney Todd, ambos incorporados por Johnny Depp. Parece que Burton acertou ao misturar música, visual gótico e sangue nesta produção. Verei ainda nesta semana.
Canções são sempre um ponto controverso para a sensibilidade do púbico atual, mas acho que faz tempo que Burton vinha querendo realizar um musical pleno. A Noiva Cadáver e A Fantástica Fábrica de Chocolate já acenavam para isso. Um abraço.
Guardei pra este final de semana. ;)
Só achei que, diferente daquele telefilme com o Ray Winstone que comentei por aqui, senti falta de mais detalhes das outras atividades sangrentas que um barbeiro exercia corriqueiramente no passado, como fazer pequenas cirurgias, dar pontos, etc. De qualquer maneira, sangue aqui é o que não falta, hehehe.
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