quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Na Natureza Selvagem

(Into the Wild, EUA, 2007)



Mais maduro como cineasta e retomando, em imagens deslumbrantes e poéticas, temas que lhe são bastante caros, como o sujeito rebelde, desgarrado da família e do mundo, visto em seu filme de estréia como diretor, Unidos pelo Sangue (1991), ou pais tendo que lidar com a dolorosa perda do filho, como em Acerto Final (1995) e A Promessa (2001), Sean Penn, com a ajuda de um ótimo elenco e baseando-se em livro-reportagem de Jon Krakauer (autor de Sobre Montanhas e Homens e do horripilante No Ar Rarefeito), dirige com muita segurança um relato emocionado de Christopher McCandles (Emile Hirsh), jovem americano de família rica, recém-graduado com notas altas na universidade, que larga tudo e, sem identidade, dinheiro ou motivo aparente, adota o nome de Alex Supertramp e parte com seu carro velho rumo ao Alasca. Seus complicados pais (William Hurt e Marcia Gay-Hardem) nunca mais terão notícias dele vivo, assim como a sua irmã mais nova (Jena Malone), cuja perplexa narração pontua o filme. Essa sua jornada espiritual combina o idealismo do Walden de Thoreau com o espírito humanista de autores aventureiros, como Jack London, ou intimistas, como Tolstói. Em sucessivos flashbacks, Alex, por onde passa, deixa impressões profundas nas pessoas que conhece, como um casal de hippies que já não é mais o mesmo e um senhor viúvo e solitário (Hal Holbrook, excelente), em belo momento do filme, até o seu isolamento no inóspito Alasca, onde, como um personagem de algum filme de Werner Herzog, é vencido pela natureza que tanto idealizava e lá definha. Um olhar épico sobre paisagens bastante conhecidas da vastidão da América profunda, sobre o eterno desejo de desbravá-las e de se perder nelas, mas também intimista, de um jovem obstinado, generoso, de ideais inconformistas que lhe escapam no confronto sempre desproporcional com a natureza ou com outros indivíduos. O que havia de idealismo libertário na América, representado pela jornada tardia do enigmático Alex ou Christopher, reafirma Penn no final com certa melancolia, parece ter ficado naquele ônibus "mágico", perdido em algum lugar no meio do Alasca.

7 comentários:

Rodrigo Fernandes disse...

Oi, david.. ótimo post... nunca fiu cm a cara do Sean Penn, mas de certa forma devo curtir esse novo trabalho, pois tem um elenco que gosto.. além da história ser mutio interessante,além do que nãoé o primeiro que comenta a tal evolução cinematografica do Sean... espero ve-lo o masi rapido possivel...
pelo jeito foi injustiçlado pelo Oscar que o ignorou totalmente...
abraços

Alex Gonçalves disse...

Não conferi as duas primeiras produções de Sean Penn como cineasta. Já "A Promessa" é um drama que me agradou pouco. Mas estou ansioso em ver este seu novo trabalho que, além de elogiado, possui uma trama aparentemente bem envolvente e emocionante.

Lorde David, o resultado do Bolão foi divulgado e o senhor conseguiu 703 pontos – e a última posição, rs.

Abraço!

Lorde David disse...

Se você não vai com a cara do Penn, não se preocupe, aqui ele só dirige, hehehe. Vá tranquilo ver que o filme é bom e de fato mereceria mais algumas indicações no Oscar. Um abraço.

Oi, Alex. Gosto do primeiro, com um ainda não conhecido Viggo Mortensen. De A Promessa, não gosto tanto. Já o Acerto..., reunindo novamente a dupla de A Honra do Poderoso Prizzi, tem seus momentos. Alguns bem pungentes. E valeu pelo resultado. Acho que levo mais sorte nos bolões de Loteria, hehehe. Um abraço.

Anónimo disse...

Vi hoje. Muiti, muito, muito bom. Penn e elenco em sintonia total. Uma verdadeira injustiça esse filme não ter disputado as categorias principais do Oscar.
Abração

Michel Simões disse...

Puta filme!

Anónimo disse...

Um dos melhores do ano passado lançados agora aqui, fácil.

te falar, David, q o senhor Penn vem me conquistando tb como diretor desde o primeríssimo trabalho dele e sou obrigado a dizer q são 4 masterpieces out of. A Promessa é A Conversação dessa década!

Talvez esse seja o melhor trabalho dele mesmo como muitos vem dizendo, mas é bem mais difícil de analisar do que estão fazendo. E esse Emile Hirsch tá brilhante, me lembrando um jovem e talentoso Stephen Dorff, antes de assinar contratos com Millenium Films e Uwe Boll da vida.

Lorde David disse...

Muito bom mesmo, Demas. Penn trabalha muito bem o elenco de amigos e achei especialmente o William Hurt, nas poucas vezes em que aparece, bem marcante, assim como o Holbrook.

Daniel, só espero que este live action do Speed Racer, no qual não boto muita fé, não faça derrapar a carreira em ascensão de Hirsh.

Abraços a todos.