sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Juno

(EUA/Canadá/Hungria, 2007)



Ao contrário dos adolescentes de Paranoid Park, de Gus Van Sant, que, na ausência de adultos, tentam entender e se expressar ou se calar num mundo bastante nebuloso ao seu redor, mas que acabam girando em falso em torno dele, representado pelas repetitivas manobras de skate, os adolescentes, ou melhor, Juno, a adolescente do título deste pequeno filme, move-se num mundo ensolarado, fofinho e transparente, embalado por uma trilha alternativa que se quer legalzinha, sublinhando de maneira óbvia os momentos mais cômicos, que são muitos, ou os mais emocionais, que são consideráveis, como nos filmes de Wes Anderson. Menina precoce e inteligente, aos 16 anos, Juno (Ellen Page) decide ter a primeira transa com o seu melhor amigo (o magrelo, mas bastante simpático Michael Cera, de Superbad - É Hoje). Mas, mesmo se achando tão inteligente e capaz de tomar a iniciativa, ficando inclusive por cima do rapaz na hora do coito, acaba engravidando logo de cara. Como no superestimado Ligeiramente Grávidos (2007), o sexo aqui é castrador, típico da Era Bush, e tolhe cedo as liberdades da menina, que mesmo assim, e com o apoio do pai compreensivo e da madrasta nem tanto, decide ter o bebê e doá-lo depois a um casal que escolheu num anúncio de jornal com a ajuda da amiga cabeça-de-vento. O casal, representado por Jason Bateman e Jennifer Garner, repetindo a parceria de O Reino (2007), parece ser um daqueles pares perfeitos, típicos dos subúrbios de classe média alta da América vistos nos comerciais de margarina. Especialmente ele, que é supercool, pois é músico guitarrista e curte bandas e filmes Z de terror, tal como Juno. Assim, além do bebê, gesta-se uma amizade que se quer adulta, graças às intromissões freqüentes da menina no dia-a-dia do casal, no dele, sobretudo, que ela depois descobre não ser tão perfeito quanto esperava. Filme simpatiquinho de Jason Reitman (Obrigado por Fumar, 2005) e um tanto ordinário em seu artesanato, moldado como inúmeros outros filmes ditos independentes americanos, apoiado essencialmente na performance de Ellen Page, que, com suas tiradas engraçadinhas, age quase sempre com aquele mesmo tom de irritante superioridade diante do mundo, visto no igualmente emasculador MeninaMá.Com (2005), embora ela aqui aparente ter um pouco mais de coração. Decepcionante, apesar do grande sucesso de bilheteria e das imerecidas indicações aos principais prêmios Oscar deste ano.

5 comentários:

Alex Gonçalves disse...

Confesso que esta foi a opinião menos empolgante em relação ao filme "Juno". Ainda que tenha lá seus vacilos, fica difícil para mim ignorar um filme que possui atrativos o suficiente para valer o ingresso, mesmo que tais qualidades esperadas possam se tornar, na verdade, defeitos. Verei com grandes esperanças de ser presenteado com um grande filme, ainda que seja necessário certa cautela em qualquer produção onde as expectativas são bem altas.

Anónimo disse...

Olá, tudo bem?
Estou fazendo uma matéria a respeito do filme Juno para o Jornal O POVO (Fortaleza-Ce). Estou ouvindo a opinião de alguns blogueiros de cinema. Você poderia, por favor, responder a estas duas perguntas até amanha de manhã (quinta-feira)? Muito obrigada!
Abs,
Juliana Girão
Repórter - Núcleo Cultura & Entretenimento
Jornal O POVO - Fortaleza (Ce)
(85) 3255-6115
(85) 3255-6137

Tem sido dito que Juno é o "azarão" deste ano, assim como o foram Pequena Miss Sunshine e Sideways nos anos anteriores. Porque Juno acabou despertando o interesse do público e da crítica? O que ele teria de especial?

O filme concorre em quatro categorias do Oscar 2008. Quais as chances tem de levar alguma estatueta?

ps: Preciso do teu nome completo, profissão e cidade.

Anónimo disse...

O meu e-mail é jugirao@yahoo.com.br
Obrigada!

Lorde David disse...

Alex, neste período de desalento, não consegui me encantar com as qualidades que todos dizem que Juno possui. Mas vale a pena assisti-lo, nem que seja para discordar do que escrevi aqui, hehehe. Um abraço.

Juliana, já te mandei o e-mail com as respostas. Depois gostaria de ler a sua matéria, se possível. Um beijo.

Alex Gonçalves disse...

David, então verei o filme na tela grande para depois tentar discordar de você, rs.