terça-feira, fevereiro 19, 2008

A Morte de George W. Bush

(Death of a President, Reino Unido, 2006)



Um mockumentary, ou seja, um documentário de mentirinha, que forja, por meio de depoimentos fictícios e imagens reais mescladas a reconstituições bastante convincentes, a “morte” do presidente George W. Bush durante visita da comitiva presidencial a Chicago, onde é alvo de protestos de milhares de manifestantes e de um exímio atirador, que consegue romper a barreira do forte esquema de segurança e atingi-lo com dois disparos. Apesar do tema explosivo, beirando o sensacionalismo, que fez o filme ser banido dos cinemas americanos, o tom é bastante respeitoso ao “falecido” e até então odiado presidente americano, intercalando depoimentos “emocionados” de um suposto agente do Serviço Secreto, que reconhece ter falhado na missão e que o acompanhou até o hospital, e de uma articulada assessora que escrevia os discursos de Bush. Também as “investigações” são mostradas de maneira sóbria, com “especialistas” convincentemente refutando as conclusões oficiais, que, como não poderia deixar de ser, terminam apontando para um cidadão americano de origem árabe e de nome Jamal, que estaria a serviço da Síria, embora fosse só um inocente funcionário do hotel onde Bush fez o discurso. Até em seu enterro, Bush ganha honras de “grande estadista”, com direito a pomposo discurso do recém-empossado Dick Chenney. É capaz até que muitos se emocionem com a tal seqüência, o que é um tiro no pé nas intenções do realizador britânico Gabriel Range. Ou seja, o que poderia ser uma farsa bem-humorada, acaba tornando-se quase um trabalho chapa-branca sobre um hipotético evento, já que o filme não tem humor algum (e se tem, é bastante circunspecto), ainda que o diretor competentemente se esforce para inserir aqui e ali alguma crítica verossímil à política belicista de Bush e seus ataques às liberdades de civis americanos por meio do infame Ato Patriótico. Mas fica só na superfície, apesar de bem montado, bem fotografado, bem encenado, etc. Além disso, falar mal de Bush hoje em dia é como chutar cachorro morto. Ou melhor, “pato manco” (lame duck), na gíria dos americanos.

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