(Dialogue Avec Mon Jardinier, França, 2007)
Amigos inseparáveis nas travessuras da infância, separados depois pelas diferenças de classes com o fim dos estudos primários numa escola do interior da França, já que um, aqui certa feita apelidado de Dupincel (o sempre confiável e muito trabalhador Daniel Auteuil, de 36, Caché, Meu Melhor Amigo, Pintar e Fazer Amor, O Oitavo Dia, A Rainha Margot, etc.), é filho do proprietário da farmácia local, e o outro, apelidado de Dujardin (Jean-Pierre Daroussin, habitual colaborador do cineasta Robert Guédiguian, de Armênia e A Cidade está Tranqüila), de operários. O mais abastado, claro, vai estudar Artes Plásticas em Paris. Torna-se pintor de relativo êxito, especializado em retratar a calmaria do campo, onde se refugia na antiga propriedade da família para trabalhar e para esquecer um pouco o fato de que sua esposa o está deixando. E o outro se torna ferroviário na região até a aposentadoria, eventualmente trabalhando como jardineiro, até que um dia vai trabalhar na horta da propriedade de Dupincel, onde se reencontram. Aos poucos, as memórias os reaproximam, relembram anedotas e percebem que pouca coisa mudou no vilarejo em relação às folclóricas figuras locais, deixando de lado, em cada bate-papo, as diferenças sociais. Dupincel, por exemplo, encanta-se com a sabedoria popular de Dujardin, a ponto de utilizar parte do discurso do jardineiro, num momento divertido, para desmascarar um sujeitinho pretensioso, desses que existem às turras em eventos culturais e artísticos por aí, num vernissage em Paris.
Simpático filme de Jean Becker, filho do grande cineasta Jacques Becker (Grisbi, Casque D´Or, A Um Passo da Liberdade), que é exatamente o que enuncia o seu título: várias conversas entre o pintor e o jardineiro, entrecortadas por belas e tranqüilas imagens do campo e uma cena ou outra em Paris ou em Nice, onde o jardineiro passa as férias fora de temporada com a sua amada esposa (Hiam Abbass, de Free Zone e Munique), sem qualquer metáfora político-social, como quiseram ver alguns. Mas sobretudo boas e agradáveis conversas, diretas, cheias de humor, em que tipos antagônicos aprendem a enxergar o melhor de um e de outro, num belo exercício de alteridade, coisa rara hoje em dia, fazendo brotar novamente afinidades e interesses em comum, num filme simples e singelo, que é dirigido sem muito esforço por Becker, apoiado basicamente no charme dos dois protagonistas e na bela fotografia contemplativa. Mais isso basta, além de um final sinceramente comovente, ao som do sempre esplêndido concerto para clarineta e orquestra de Mozart, que certamente colabora para levar muitos às lágrimas. Como diria Voltaire, ou melhor Cândido, temos mesmo é que cultivar o nosso jardim, além de estar sempre com um Opidel (faca) e barbante para qualquer situação, como bem ensina Dujardin. E sem metáforas, por favor.
2 comentários:
Por que será que os filmes franceses são tão gostosos(pq tudo que gosto se refere a paladar?!...rs!deixa pra lá..) de asistir??!!! Como O Fabuloso Destino de Amelie Poulain...rs!hummm...
Bjsssss...
Não sei, Tula, depende também do paladar de cada um para apreciá-los, hehehe, pois sei de gente que detesta Amélie Poulain, e que não é um filme francês dos mais típicos. Um beijo.
Enviar um comentário