terça-feira, janeiro 15, 2008

Allegro

(Dinamarca, 2005)



Zetterstrøm (Ulrich Thomsen, de Brothers, 2004) é um virtuoso pianista solista, totalmente dedicado a aperfeiçoar a sua arte. Tanto que há tempos, desde a infância, quando descobriu a música como refúgio para a solidão, deixou de lado as suas emoções para melhor se dedicar à execução pianística irreprochável, embora fria e controlada. Seu único amor ocorre por acaso quando, em Copenhague, ao esquecer a chave de seu apartamento depois de um concerto, conhece a belíssima Andrea (Helena Christensen, ex-Miss Dinamarca), que quebra o gelo de seu coração. Porém, esse amor que surge de repente numa falha sua, acaba de repente, pois Zetterstrøm, controlador, homem implacável da técnica, não é capaz de se abrir ao amor e suas incertezas por muito tempo. E com o rompimento, rompe também com o passado, perdendo toda a sua memória, desde a infância, o tempo do aprendizado artístico e até as lembranças dos momentos íntimos ao lado de Andrea. Não perde a técnica, porém. Assim, refugiado em Nova Iorque, sem um passado, dedica-se com afinco à carreira profissional cada vez mais excêntrica e solitária, a ponto de, nas apresentações, tocar no escuro e exigir que a platéia use vendas para que não o veja sobre o palco, apenas ouça o que está sendo tocado. Tempos depois, um homem misterioso o procura e lhe diz que suas memórias estão armazenadas num lugar chamado A Zona, área impenetrável surgida misteriosamente num quarteirão de Copenhague, onde ninguém sabe o que tem dentro. Na capital dinamarquesa para um concerto, Zetterstrøm consegue adentrar na Zona. Porém, quando sai de lá, passa a tocar desafinado, para seu desespero.

Um filme à maneira do pretensioso diretor dinamarquês Christoffer Boe, que, da mesma forma que nos superiores Reconstrução de um Amor (2003) e Offscreen (2006), busca desconstruir seus personagens ou prendê-los a existências inusitadas, desconstruindo a película, ou melhor, a imagem digital de seus filmes com todo tipo de intervenções visuais que se querem pós-moderninhas, como granulações, diferentes linguagens, chicotes, desfoques, filme dentro do filme, reality film, etc., como nos trabalhos de Michel Gondry (de O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, 2004). Aqui, porém, elas surgem mais discretas, na forma de ingênuas animações que narram a infância de Zetterstrøm, por exemplo, ou em algumas distorções na imagem. Ao contrário do título, que, na música, indica o andamento mais rápido ou mais "alegre" numa sinfonia ou concerto, por exemplo, o resultado aqui é frio e monótono, como um Solaris tipicamente nórdico, apesar da trilha pontuada por composições de Bach e alguns bons momentos, como quando Zetterstrømm toca um pequeno piano de cauda num passeio público, lembrando o Linus Van Pelt da turma do Charlie Brown. Só faltou o cobertorzinho...

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