quarta-feira, junho 20, 2007

Zodíaco

(Zodiac, EUA, 2007)



A obsessão de três pessoas, um policial, um jornalista e um cartunista, ao longo de mais de uma década, no final dos anos 60, para capturar o célebre serial killer autodenominado Zodiac, que causou pânico na região de São Francisco ao enviar cartas e mensagens cifradas para os jornais da cidade, avisando sobre novos crimes, e que dizia ter perpetrado mais de 30 assassinatos. Assassino(s) nunca capturado(s). Só três seqüências de morte. E uma obsessão em entender a realidade, em decifrá-la, que percorre toda a narrativa. Uma realidade, porém, que se mostra escorregadia a cada signo supostamente desvendado. E a fabricação do real pelo cinema, mero artifício ilusório para tentar organizar o mundo que escapa da compreensão, como mostrado na cena em que os protagonistas se encontram na sessão de Perseguidor Implacável (Dirty Harry, 1971), de Don Siegel, baseado no caso. Ou pela mídia, que amplifica a sensação de medo. Ao longo da investigação, evidências e mais evidências se tornam provas circunstanciais ou tecnicalidades, levando o caso ao impasse, mas não ao fim do mistério, o que é frustrante. E vidas são arruinadas, consumidas por essa obsessão. Um grande filme de David Fincher, dirigido com um rigor quase classicista, atento a todos os detalhes, evitando os excessos maneiristas de seus admiráveis trabalhos anteriores (Alien 3, Seven, Clube da Luta), para expor aqui com transparência absoluta um mundo cuja claridade é toda enganosa ou relativa.

6 comentários:

Ailton Monteiro disse...

Você viu algum filme quando esteve na Europa, David?

Ailton Monteiro disse...

Forget about it..hehehe.. Li logo abaixo que vc viu GRINDHOUSE lá!!! E com direito a trailer de LA TERZA MADRE!! Maravilha, hein!!

Lorde David disse...

Eu não vi muitos filmes por lá. Na França, pátria da cinefilia, nos primeiros dias o jet lag atrapalhou. Dormi em Still Life e Zodiac (em partes), por exemplo. Na Itália, como fiquei em cidades pequenas, provincianas, não tinha muita oferta de filmes, nem cinema às vezes, e o que estava em cartaz nas maiores era mesmo Shrek, Piratas do Caribe, Ocean's Thirteen. Tudo dublado em italiano e que poderia ver por aqui. Então, depois de dez dias sem ver nada, num domingo preguiçoso, optei por rever Zodíaco no único cinema de Pieve Fosciana, ainda que dublado, mas foi uma ótima experiência, porque a dublagem de lá é excelente e a projeção, fantástica, numa sala grande, das antigas, e muito bem cuidada. Aí o filme de Fincher bateu. Já Grindhouse, conforme previsto, separaram os filmes, então só vi o do Tarantino, lançado primeiro, em Milão. Mas achei melhor assim, pois não estava muito a fim de ver o do Rodriguez na seqüência, depois da maravilha que é Prova de Morte. E o preview do Argento foi mesmo de encher os olhos.

Lorde David disse...

E também tive uma experiência à Argento in loco: aquele mal-estar tremendo diante das obras de arte, conhecido como Síndrome de Stendhal, eu senti não em Florença, mas em Siena, na catedral ultradecorada e opressiva da cidade. Foi angustiante, mas não a ponto de sair matando as pessoas, acho, hehehe. Depois descobri que em Florença, no hospital da cidade, existe de fato um setor de psiquiatria que cuida de casos assim. Achei isso extraordinário, hehehe.

Ailton Monteiro disse...

Falar nisso, estou com SÍNDROME MORTAL pra ver em casa também.. :)

Lorde David disse...

Cuidado para não sofrer da Síndrome também, Ailton, hehehe.