(Brasil, 2006)
A tagarelice de mesa de bar de Domingos Oliveira, cena que abre o filme, alinhada mais uma vez à histeria confessional de sua protagonista e colaboradora habitual Priscilla Rosenbaum (muito bem), como uma âncora televisiva, que, entre uma carreira e outra de cocaína, vê sua carreira propriamente dita desmoronar, ao ser trocada por uma moça mais jovem na emissora onde trabalha. Noite adentro, esgoelando-se pelo telefone, ela atira farpas em tudo e a todos, amigos, noivo e inimigos. Quase não sobra “afeto” para ninguém. Rápido e rasteiro, apressado melhor dizendo, sobretudo por causa de seu baixo orçamento, não deixa de ter certo interesse, expondo acima de tudo a vontade do realizador em fazer cinema de qualquer jeito e a qualquer custo, ajudado pela flexibilidade do digital, apesar das suas precárias condições de realização, usadas inclusive para propagandear o filme, ao alardear mais uma vez a estética da mendicância exercida nas filmagens, feitas em cooperativa, discurso às vezes comum no cinema nacional e que aqui ganha a sigla de BOAA (Baixo Orçamento e Alto Astral). Mesmo assim, em termos narrativos, não se afasta muito de sua origem teatral, baseado em peça de Oduvaldo Vianna Filho, pois é todo conduzido pelo texto. Sente-se também que é um tanto incompleto em sua conclusão, vagamente conciliadora, pois ela passa a noite atacando o sistema e as pessoas por trás dele, é triturada por eles, para depois se submeter a eles no final das contas. Então fica tudo como está, mesmo, nem teria valido a pena berrar tanto, pois a carreira é retomada e as carreiras (e os cigarros e a bebida e os comprimidos), também. Ou teria?
Sem comentários:
Enviar um comentário