Sem ordem de preferência, com exceção dos três primeiros filmes dirigidos por DAVIDs, que, para mim, merecem todos os holofotes do mundo, hehehe, abaixo alguns memoráveis destaques dentre as películas vistas no ano de 2007. Ano que, se fora das telas, foi um tanto tenebroso, para não dizer coisa pior, cheio de frustrações e oportunidades perdidas, dentro dos cinemas foi nada menos que sensacional, como há muito não se via. Tivemos o retorno triunfal de grandes mestres como Lumet, Herzog (num filme que é uma deliciosa patriotada típica dos anos 80, em que se aprende coisas úteis, como abrir algemas, fazer fogo na selva tropical e armazenar comida no meio da merda!), Cronenberg, Resnais ("Paris, te odeio"), Chabrol, Friedkin, Loach, Frears, os irmãos Coen (que devem ganhar todos os prêmios este ano, friendo!), mais um duplo Clint Eastwood (não consigo separar os dois filmes!) e o sucesso estrondoso do brasileiro Tropa de Elite, mais que um filmaço, um fenômeno cultural, além da volta de James Gray emplacando mais um ótimo drama policial familiar que paga tributo ao já citados Lumet, Friedkin e também a Coppola. Aliás, o policial foi o gênero que mais se destacou, tanto no intricado, mas fortíssimo e exigente Zodíaco, prova indiscutível da maturidade de David Fincher, calando a boca de muitos de seus detratores, como na hilariante comédia policial Hot Fuzz, assinada pela imbatível dupla Edgar Wright-Simon Pegg. E o que dizer do desconcertante e rigoroso quebra-cabeça sensorial de David Lynch, que incomodou tanta gente? Para mim, uma obra rigorosa de gênio e não uma viagem de um videomaker maconheiro, como se rotulou por aí. E as mulheres? Pois tivemos ainda grandes interpretações de belas ladies, como a da multifacial Laura Dern revivendo a Alice na Terra das Extravagâncias de David Lynch, a da corajosa Marina Hands como a clássica adúltera Lady Chatterley da rousseauniana adaptação contemplativa de Pascale Ferran, a da cínica Isabelle Huppert como uma juíza cheia de “charme”, mas “matadora de homens” (“Charmant-Killman”, de A Comédia do Poder, outra vez em matadora sintonia com Chabrol), a da paranóia desglamourizada de uma apaixonada Ashley Judd de Possuídos, e a menção toda especial à nobre Helen Mirren como a única e verdadeira Rainha da Inglaterra. Além de mais comédia, com destaque para o ascendente cinema romeno, feito com tão poucos recursos, mas usando a precariedade a seu favor como corrosiva sátira política e social em A Leste de Bucareste, e os pratos chiques, que despertam lembranças e emoções, preparados por um muito fino ratinho de esgoto que vira o inusitado chef de um tradicional restaurante parisiense. Sem deixar de mencionar um western crepuscular de arquitetura primorosa, retomando Kubrick, Malick, Peckinpah e até Ford, pois mata o homem para fazer nascer o mito, levado por uma belíssima trilha sonora de Nick Cave e Warren Ellis, e o melhor e mais vibrante musical dos últimos tempos, ponto alto e surpreendente da carreira do até então medíocre Adam Shankman, refilmando e reelaborando a acidez de John Waters e botando novamente o travestido John Travolta para dançar e rebolar. Assim, sem mais, como anunciaria James Marsden, ou melhor, o mestre de cerimônias Corny Collins de Hairspray, roll call:
INLAND EMPIRE, DAVID Lynch
Zodíaco, DAVID Fincher
Senhores do Crime, DAVID Cronenberg
Onde os Fracos Não Têm Vez, Joel e Ethan Coen
A Leste de Bucareste, Corneliu Porumboiu
Antes que o Diabo Saiba que Você está Morto, Sidney Lumet
Lady Chatterley, Pascale Ferran
Tropa de Elite, José Padilha
A Comédia do Poder, Claude Chabrol
Hot Fuzz, Edgar Wright
O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, Andrew Dominik
Possuídos, William Friedkin
A Rainha, Stephen Frears
Os Donos da Noite, James Gray
Ratatouille, Brad Bird
A Conquista da Honra/Cartas de Iwo Jima, Clint Eastwood
Medos Privados em Lugares Públicos, Alain Resnais
Ventos da Liberdade, Ken Loach
O Sobrevivente, Werner Herzog
Hairspray, Adam Shankman
E, finalizando, os destaques pra lá de negativos:
Baixio das Bestas, Cláudio Assis
O Búfalo da Noite, Jorge Hernandez Aldana
Norbit, uma Comédia de Peso, de Brian Robbins
Cem Escovadas Antes de Dormir, Luca Guadagnino
Angel-A, Luc Besson
Assim, longa vida aos DAVIDs e, principalmente, aos brothers Coen! Amém.
12 comentários:
Não vi RAINHA, BUCARESTE, MEDOS PRIVADOS, HAIRSPRAY e CHATTERLAY. O do Ken Loach achei apenas bom. Outros destaques da ala feminina são Carice Van Houten e a chinesinha de LUST, CAUTION.
O do Loach foi melhor do que eu esperava. Mas acho que fui um dos poucos a ter gostado. E cresceu com a revisão. Ainda não vi o do Verhoeven. O do Lee, como já disse, preciso rever. No dia, a falta de sincronia das legendas atrapalhou bastante.
Esse INLAND EMPIRE dominando o primeiro lugar das listas está me dando medo...
É uma conspiração, Daniel. Viu que o "Zodíaco" vem logo em segundo ? :)
Achei que Hairspray na lista fosse assustar bem mais, sobetudo quem não curte musicais, hehehe.
Esse CEM ESCOVADAS já parecia horrível só pelo trailer. O filme só funcionaria se fosse com erotismo um pouco mais carregado. Mas BAIXIO DAS BESTAS é legal!!! :)
Mas ZODÍACO eu to quase dizendo q eu gosto, Leandro! Acho q foi muito duro com ele.
HAIRSPRAY eu não vi nem o original...
Cem Escovadas... é uam adaptação de um livro de bastante sucesso na Itália, baseado nas memórias de uma tal Melissa P., a Clarah Averbuck italiana, e que tenta ser vendido como um novo Christiane F. da geração X, Y, Z ou sei lá mais o quê. Pior é ver a Geraldine Chaplin nessa furada. Constrangedor.
Daniel, não vi também o original de John Waters, mas nessa refilmagem deu para perceber que muita coisa de Waters, ainda que suavizada, estava presente a começar pela heroína gordinha, além de sua Baltimore natal cheia de tipos excêntricos que ele vem esculhambando desde de Pink Flamingos.
Gostei da lembrança do romeno 12:08!
E ainda estou com outro romeno na fila, A Morte do Sr. Lazarescu, que dizem ser tão bom senão até melhor que Bucareste. Um abraço.
Pergunta blond: não dava pra colocar o link pro seu comment na sua lista?:) Folgada, né? mas vc sabe como sempre gostei das suas listas ;). Thaís (Parodi)
Oi, Thaís querida. Que bom vê-la por aqui. Lembro muito bem o apreço que você tinha por minhas listas. Quanto a sua pergunta/sugestão, até dá, é que fiquei com preguiça de procurar os textos um por um e colocar o link correspondente, hehehe. Um beijão.
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