segunda-feira, janeiro 21, 2008

A Espiã

(Zwartboek/Black Book, Holanda/Alemanha/Bélgica, 2006)



Nazismo, patriotismo, heroísmo... nenhuma ideologia resiste intacta à beleza da atriz Carice van Houten, capaz de fazer até o alto oficial nazista render-se a seus encantos e virar a casaca, especialmente em tempos de guerra. No caso, final da II Guerra Mundial, numa Holanda ocupada por nazistas, onde ela interpreta uma judia cantora de negros cabelos que, após ver a fazenda onde se refugiava ser acidentalmente bombardeada, tenta fugir, mas seu barco é metralhado por nazistas, a sua família, morta e os despojos, saqueados. Sobrevivente, ou quase, já que ressurge de um caixão como que ressuscitada, com a cruz no peito, outro nome, cabelos e até pêlos pubianos tingidos de loiro, ela se junta à resistência com a missão de se infiltrar no quartel do comando alemão em Haia. Obviamente, os nazistas também contarão com agentes infiltrados dentro dos oposicionistas. Como em Lust, Caution, de Ang Lee, as imperfeições humanas farão com que se aproxime até demais do oficial nazista (Sebastian Koch, de A Vida dos Outros) que deveria matar, mas que não é tão nazista assim, ao contrário de vários de seus "honestos" colegas saudados como heróis depois da queda dos alemães, num ótimo filme de espionagem de guerra às antigas, repleto de reviravoltas inacreditáveis, em que ninguém é o que parece ser, o verdadeiro enigma humano por trás de aparências heróicas ou repulsivas, que o notável diretor holandês Paul Verhoeven, de Robocop, O Vingador do Futuro e Tropas Estrelares, com menos escatologia que nesses filmes e regresso a sua terra natal e aos tempos em que filmou Soldado de Orange (1978), sem meios tons, trata de explorar ao máximo até os instantes finais, quando uma suave subida da câmera na grua revela que nem em um bem protegido kibutz israelense, local que abre e fecha o filme, a belíssima heroína parece ter encontrado o seu porto seguro, ao contrário do que indica a placidez das águas do lago na região.

2 comentários:

André Renato disse...

O finalzinho é demais!

Lorde David disse...

E seria mais interessante ainda se ela tivesse conseguido fugir com o oficial para a Israel. Já pensou um ex-nazista num kibutz? Algo que caberia perfeitamente na cabeça do holandês maluco.