quarta-feira, janeiro 23, 2008

A Culpa é do Fidel!

(La Faute à Fidel, França/Itália, 2006)



Passa pelos olhos muito expressivos de uma menina de 9 anos de idade, Anna (a sensacional Nina Kervel-Bey), todo o contexto político do turbulento início dos anos 70. Filha de pais da alta burguesia que acabam aderindo à militância esquerdista pró-Allende e pró-Cuba, vê sua confortável casa diminuir de tamanho quando ela e seu irmão François se mudam para um apartamento menor, que é constantemente invadido por malcheirosos barbudões vermelhos que nada têm a ver com o Papai Noel. Também é dispensada das aulas de catolicismo que tanto gostava e vive uma rotina desconfortavelmente igualitária, alimentando-se de iguarias exóticas e desagradáveis a cargo de empregadas e babás refugiadas políticas da Indochina ou da Grécia. E entre reuniões de dogmáticos militantes de esquerda e visitas a seus avós reacionários, porém mais afetusos que os secos esrquerdistas, como parte do processo de crescimento, aprende com seu flexível olhar infantil, e de um jeito bem pessoal, a se adaptar às novas exigências e a conviver com múltiplas e disparatadas opiniões de adultos intransigentes que, muitas vezes, estão muito mais sem rumo na vida do que ela, pela câmera sempre observadora da diretora Julie Gavras, filha do célebre diretor politizado Constantin Costa-Gavras (Z, Estado de Sítio, Missing, Atraiçoados), que nunca sai da altura de Anna até o belo plano final no pátio da escola. Ora terno, ora divertido em suas ironias, um filme sempre agradável e de incrível poder de síntese diante de um período pra lá de complexo.

4 comentários:

Michel Simões disse...

Uma beleza de filme...

Lorde David disse...

Pela temática vista através do olhar infantil, acho-o bem melhor que O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, por exemplo, que é um filme que se acomoda a velhas ideologias autoritárias. Este de Gavras é mais crítico aos dois lados. E posso me juntar a sua turma este ano?

André Renato disse...

Ótima resenha! Agora eu quero ver "O ano em que meus pais saíram de férias", mesmo eu não sendo fã de Pedro Bial...

Lorde David disse...

Pode ver tranqüilo, André. O filme do Hamburger Hill é bom, mas não é tudo isso. Quanto ao Pedro Bial, era uma brincadeira em relação ao BBB. Caso o filme fosse indicado, com certeza aqueles malas estariam torcendo para ele no dia do Oscar, com direito à transmissão ao vivo, comentários do Bial e do Wilker e muito U-hú. Eca!