quarta-feira, junho 27, 2007

Um Lugar na Platéia

(Fauteuils d'Orchestre, França, 2006)



Pessoas comuns em meio a pessoas incomuns, famosas, extravagantes, ricas, neuróticas, mas com problemas e angústias em comum entre si, nesta comédia tipicamente parisiense de Danièle Thompson (Fuso Horário do Amor, 2002). Na chique Avenida Montaigne, um concerto de Beethoven, um leilão de obras de arte e uma apresentação teatral de Feydeau estão para acontecer no mesmo dia, no mesmo quarteirão, nas cercanias do hotel Ritz. Em meio aos preparativos, os protagonistas de cada evento – um pianista (Albert Dupontel) cansado de todo o ritual tradicional do concerto, da casaca à platéia pomposa do teatro, e sufocado pela mulher (Laura Morante), que ainda ama, no entanto; um milionário (Claude Brasseur), que arruma uma amante bem mais jovem e que quer se desfazer de sua coleção particular para não virar “guarda de museu”, nas suas próprias palavras, apesar das restrições de seu filho intelectual (Christopher Thompson), que pouco liga para dinheiro ou para "Catarina de Médici" e que está com o casamento em crise; e finalmente uma atriz (Valérie Lemercier), bipolar, workaholic e cansada do sucesso na televisão, que encena a peça e que sonha em fazer um filme de prestígio com um diretor americano (Sydney Pollack), que por sua vez se encanta com a visão heterodoxa dela sobre Simone de Beauvoir – são servidos por uma jovem garçonete interiorana (Cécile De France), criada pela avó e que almeja ter o seu lugar na platéia, mas não muito longe do palco. Nem muito perto também. E de preferência com alguém sentado ao seu lado, como todo mundo. Ao arrumar um emprego num café nas redondezas, ela fará a ligação entre as três histórias neste filme de encontros, desencontros e temperamentos à flor da pele, que é francês sem ser cabeçudo, apesar das inúmeras referências artísticas e literárias que percorrem os afiados diálogos. Ao contrário, ao zombar de Sartre ou Beauvoir, é cheio de vitalidade, afetuoso com os personagens e emana elegância mesmo nos seus momentos mais vulgares, da mesma forma que o Imperador de Beethoven, brilhantemente executado durante o clímax, que une os três acontecimentos e personagens de forma decisiva, hilária e poética. Bravo!

2 comentários:

Ailton Monteiro disse...

Estou torcendo pra que o filme continue em cartaz na sexta pra que eu possa ver. Seu comentário me animou.

Lorde David disse...

Eu gostei bastante, Ailton. Vi-o duas vezes. E as personagens femininas dão um show.