Para a mulher de hoje, moderna, solteira, sensual, liberal e emancipada, o homem perfeito, o bom partidão, tem que ter somente as seguintes características: ser bonito, não ser tão bonito. Ser loiro, ou moreno, ou negro, ou caucasiano, ou mulato, ou meio índio, ou meio cafuzo, ou meio oriental. Ou inteiramente oriental. E musculoso e gentil. Ou magrelo ou barrigudo e gentil. Ou bravo. Ou calmo. Ou estressadíssimo. Ou super sussa, aí, ó. Do mesmo signo. De signos diferentes. De mesmo ascendente, eu prefiro. De ascendentes diferentes. O mesmo para o horóscopo chinês. Ou não. Com ou sem tatuagem. Com tatuagem, de preferência. Sem tatuagem, de preferência. Ter olhos claros, ter olhos escuros, ter olhos castanhos claros, ter um olho escuro, outro claro. Ter a rudeza bem masculina impressa nos olhos. Ter a delicadeza expressa pelo olhar. Ter a doçura expressa pelo olhar. Ser gentil, ser cavalheiro, ser meigo, ser rude, ser modesto, ser honesto o tempo todo, ainda que minta um pouquinho. Ser sossegado, ser agitado, ser introvertido, ser extrovertido. Ter samba no pé. Ser intelectualmente brilhante. Daqueles com a câmera na mão. Filmando tudo e o nada. O nada, acima de tudo, enquanto escreve poemas ou torpedos, servem estes também. Intrigante. Ser enigmático. Ser transparente e flexível. Ser inflexível. Mas transparente, sobretudo. Dar uma de esperto barrigudo. Dar uma, duas, três de uma vez. Piscadinhas e piscadelas. Ser um xucro, um cavalão, um garanhão, um galinhão. Flerte é coisa do passado. Ou não é. Saber soletrar o nome, apenas. Ser homem de uma mulher só, ainda que confesse ter outras, pois honestidade é tudo hoje em dia para um bom relacionamento. Ter ainda alta conta bancária, cartões de crédito premium sem limite. Precisa ter carro. Pode ser qualquer carro. Tem que ser carro de luxo. Que venha com o motorista também, oras! Ou não precisa ter cartão, ou carrão, não precisa ter conta, nula a conta, negativos os saldos, pois só o amor basta, no final das contas, o ter o um ao outro, ou não ter, tendo. Tem que ter, pô! All we need is love. Ser também graduado, pós-graduado, de preferência na FGV ou em Harvard ou em Pirapora do Bom Jesus. Ou não ser graduado e, mesmo assim, ser pós-graduado. Pós-graduação na escola da vida, dizem. Engenheiro, advogado, analista, ilusionista, calculista, financista, jornalista, contador, médico, empresário, veterinário. Católico, budista, metodista, espírita, seicho-no-iê, protestante, islâmico, judeu. Com ou sem circuncisão. Da igreja mórmon dos últimos dias, mas com uma esposa só. Ou várias, desde que uma não saiba da outra. Ou saiba. Ser bom de cama, embora sexo não seja tudo, mesmo que seja quase tudo. Gostar de rock, indie, pagode, blues, broadway, sertanejo, jazz, clássico, eletrônica, lounge, trancer, hip hop, eletroacústica, erudito, new age, balé, ópera e teatro, com DJ no ritmo da night, vestimenta de brechó, se acabando na balada trash já no pós-nove da manhã do dia seguinte. Ser ele ainda o DJ, com tatuagens, piercings, brincos, e depois um café. Expresso, por favor. Sem açúcar ou com adoçante. Faça dois para a viagem, embora prefira o meu sem cafeína. Ou que seja chá mesmo. Com limão. Minto, com leite. E sem açúcar. Melhor uma Coca Light, agora Zero, para beber no cinema com pipoca. Também gostar de cinema, do Espaço Unibanco, do Cinemark, Bombril, Kinoplex, Cinemateca, Belas-Artes. Dos três Bs, além do BBB: Bergman, Buñuel, Bertolucci. E de Fellini. E de Woody Allen. E de Bresson, outro B. E maiúsculo. E de Kurosawa. E de cinema do Irã, da República Tcheca, da Turquia, China, da Romênia, da Bósnia, do Cazaquistão (Borat não vale, ou vale também). E de Homem-Aranha. Ou de pancadaria americana. De Steven Seagal e Van Damme, não. Pode até gostar de Steven Seagal. Do Van Damme, não. De Van Damme também pode, desde que dispense o Jet Li, o Jackie Chan, o Chuck Norris, o Vin Diesel, o Dacascos e o Stallone. Pensando bem, pode até gostar deles, desde que não goste do Mr. Bean. Pode gostar do Mr. Bean. E do Garfield, o gato fofo que come lasanha, mas só daquelas vegetarianas. Não faz mal se for vegetariano. Às vezes, faz. Tem que ser vegetariano, pois coitado do boi, do galo, do pato e do porco que sofrem ao serem abatidos. Do peixe, ao ser pescado e congelado morrendo de frio. Ou da alface que sofre ao ser arrancada ainda viva da terra. O melhor mesmo é gostar de churrascão. Mas sem suruba. Ou com alguma putaria. Sem putaria. Nudez, talvez. Fico só na salada, na maionese e no queijinho mesmo. Na normal, na moral, mas tudo um tédio assim paradão, só na fofoca e nas breja sem álcool. E tem que agüentar, sim. Tem que agüentar a fofoca das minhas amigas. E as minhas amigas. Todas elas, sobretudo quando abrem a boca (não as pernas, viu!) ao mesmo tempo, ininterruptamente. Mas aos filmes de novo. E aqueles da Julia Roberts. E da Sandra Bullock. E do Hugh Grant. E do Keanu Reeves. E do Jude Law. Tem que ser igual ao Jude Law. Tem que ser o Jude Law. Melhor que seja o Jude Law. Ou o Selton Mello. Ou o Rodrigo Santoro. Tem que gostar de Lost, de Heroes, de Sopranos, Sete Palmos, Friends, Simpsons. Futebol? Não, futebol, não, please. De novela, sim. Mas pode gostar de futebol, fazer o quê. E de Sex and the City. Mas não vale ficar só vendo TV. Ler livros, também. Literatura de Cabul. Auto-ajuda, psicografados, auto-estima ou auto-depreciação. O Segredo? O Desespero? E gostar também de revistas. De Contigo, Caras, Gente. Gente! Tem que estar sempre acompanhado de gente. De amigos, dos muy amigos. Aventureiros. Falastrões. Caladões. Viajantes. Iatistas. Malabaristas. Manobristas. Equilibristas. Alpinistas. Sociais, está claro. Ou estar só. Sempre. Como sedentário. Ordinário. Ansioso. Extravagante. Desbundante. Bravo, Maestro! Maestro, artista também. Flautista. Trompetista. Clarinetista. Pianista, toda a orquestra, mais o maestro de novo. E o coro, sem sopranos. Músico somente, instrumentista. Instrumento grande, instrumento pequeno, flautim, fagote, contrafagote, clarineta, trombeteando com a tuba e com a trompa. Afinado. Desafinado. De sopro, de cordas, de percussão, de precisão, diapasão. De andamento lento, de andamento acelerado. Não tão acelerado. Sustentado. Largo ma non troppo. Modulado como o rack comprado a prestações. Carinhoso. Amoroso. Afetuoso. Il Principe. Que cozinhe. Que não cozinhe. Que siga a dieta de Long Beach. Que não siga. Bonachão. Brincalhão. Sorridente. Diga “X” na foto do casal. Ou “Uíssssque”. Simpático, antipático, burocrático. Gerente de risco ou de situação. Apaziguador. Contestador. Brigador. Bundão. Bundalhão. Bunda mole, mas que seja bem durinha. Narcisista. Ególatra. Sociopata. Marginal. Enfadonho. Traficante. Burguês. Engajado como o guia genial dos hormônios. Carismático. Mulherengo. Hedonista. Malandro. Onanista. Atraído pelo perigo. Enfadado pelo tédio. Acovardado pelo dia-a-dia. De uma mulher só. Única. E para sempre, até o fim dos dias. Ou de um dia qualquer. E que ainda traga os filhotes. Um, dois, três, marchando, sempre em frente. Sentido! Sentiu?
Ser tudo isso e mais um pouco e ainda responder sempre afirmativamente para ela: Você me ama? Você me ama? Você me ama? Você me ama? Você me ama? Você me ama? Você me ama? Você me ama?
Simples, não?
7 comentários:
Oi David!
A sacanagem maior é que devo concordar com isso! Mas... é muito simples! Eu quero apenas isso, ué?! Fácil assim.
O encerramento foi o melhor!!! rsrsrs
Achei estranho ler isso! Creeedo! Nós mulheres somos assim... tão... tão... chatas?! rsrsrs
Beijos.
Rê.
Rê, essa pergunta eu não sei te responder. Só respondo afirmativamente aquela que aparece no final do texto, hehehe. Um beijo.
Sensacional! Genial! Plac! Plac! Plac!
Mas eu sou simples. Hoje em dia só tenho uma exigência: que seja um homem de pau grande. Rá!
Beijo.
Penso que não é tão simples também, Alê. Tuba ou fagote, ainda vai depender e muito da afinação do instrumento, hehehehe. Pior ainda se for um corno inglês, hehehe.
Eita!! Você conseguiu a proeza de aumentar ainda mais o texto!! E os adjetivos? Superou o Aurélio. Agora eu preciso de um Houaiss. Mais um homem na minha lista. Lista?! Que lista?! A lista é sua! Ou é nossa? Que comprida que ela é. Se as mulheres quiserem um homem de lista comprida, serve a sua!!
Brincadeiras a parte, o texto está excelente. até eu cansei de ser mulher...
Beijocas.
É por aí mesmo. Pior que elas esquecem as gentilezas e já vão direto para as superficialidades, como o tamanho daquilo que é envolvido pela glande. Tão ficando iguais aos homens, isso sim.
Pois é, Anderson, opta-se cada vez mais pelo básico, apesar do excesso de oferta, que, queira ou não, existe. Talvez o melhor seja jogar o trigo no mar, queimar o arroz, a soja e o café, se você entende o que quero dizer, em bom economês, está claro.
Lílian, sorella, se colocasse tudo que estava pretendendo, e não só em adjetivos, encheria vários e vários volumes da Enciclopédia Britânica, a maior antes da Wikipédia. Bem mais confiável, porém, hehehe. Um beijo.
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