(Brasil, 2006)
Juventude da faculdade pública em (des)compasso de espera no Rio dos dias de hoje. Em descompasso entre eles. Sem lenço, sem documento, sem compromisso, sobretudo. A revolução que não veio, nem mais virá. Sobram alguns clichês lingüísticos. Livros, sobretudo Foucault, músicas, sobretudo a MPB, jargões, sobretudo “proibido proibir” e “alienado”, o boteco, sobretudo a cervejinha e o samba, e as drogas, sobretudo a maconha, ameaçam estereotipar o trio de protagonistas. Sobretudo no insistente “ descompromisso” anárquico do médico residente Paulo (sua máxima: “o que importa no mundo é a buceta e a cannabis”), interpretado por Caio Blat, no insistente compromisso social do estudante negro de Ciências Sociais Leon, interpretado por Alexandre Rodrigues, e sobretudo nos trejeitos insistentemente românticos e meigos da estudante de arquitetura que quer conhecer Paris, Letícia, de classe média alta, interpretada por Maria Flor, comprometida com Leon e que será a paixão de Paulo, comprometido ao menos em ajudar uma doente de câncer, Rosalina (Edyr de Castro, excelente), sua única confidente, e em localizar os filhos dela, perseguidos pela polícia, insistentemente. Contudo, quando inevitavelmente as mazelas sociais à brasileira se impõem, o trio se aproxima, se humaniza, e o filme de Jorge Durán ganha contornos dramáticos mais consistentes em seu despojamento naturalista, espontâneo até, aproveitando bem as locações nas praias e subúrbios cariocas. No final, fugindo da polícia, o trio contempla do mirante na serra de Petrópolis o horizonte nublado, sem perspectivas, mas juntos. Juntos, sobretudo.
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