quarta-feira, maio 16, 2007

A Morte de um Bookmaker Chinês

(The Killing of a Chinese Bookie, EUA, 1976)



Um filme de John Cassavetes com contornos narrativos mais definidos, ao contrário do improviso que tomava conta de Sombras (1959) ou Faces (1968), por exemplo, e um onipresente clima de decadência no ar. Aqui, uma trama noir em tons avermelhados, em que o dono de um clube noturno de Los Angeles, Cosmo Vitelli (Ben Gazzara, excelente), deve 23 mil dólares no jogo para gângsteres. Para saldar o débito, ou ao menos reduzi-lo, é forçado pelo líder deles (Seymour Cassel) a dar cabo num poderoso apostador chinês. O serviço é feito, mas Cosmo se vê perseguido pelos mafiosos que o coagiram, e terá que se livrar deles também, numa anticlimática seqüência de tiroteio, quase toda às escuras. Mesmo emboscado, não deixará de se dedicar aos preparativos do show apresentado a cada noite ou de tomar conta das inúmeras (e carentes) strippers que o cercam. Porém, a partir de determinado momento, ferido, estará mais só. Hora de deixar o palco. E talvez para sempre.

Filme noturno, de sombras que se avolumam a todo instante, com tensão narrativa que vai se esgarçando à medida que se aproxima do final, e bem à maneira autoral de Cassavetes: despido de artifícios, com a câmera solta pairando sobre as figuras do nightclub, emanando humanidade dos tipos melancólicos, solitários e decadentes que registra, como Mr. Sophistication (Meade Roberts), Mestre de Cerimônias dos shows, um tipo meio Joel Grey deixado para trás, sobretudo na longa seqüência final no palco. E já sem Cosmo, engolido pelas sombras da cidade grande, em sua violência e indiferença, bem representadas na cena em que seu carro enguiça no meio de uma movimentada via expressa.

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