(Rescue Dawn, EUA, 2006)
Com jeitão daqueles filmes de guerra da capinha azul distribuídos pela saudosa América Vídeo nos anos 80 e um final deliciosamente patriótico, daquele bem militarista, tipicamente americano, no entanto, um POW movie à maneira do loucão do Werner Herzog (Aguirre – A Cólera dos Deuses, Fitzcarraldo, Cada Um por Si e Deus Contra Todos, ou melhor, O Enigma de Kaspar Hauser, Coração de Cristal, O Homem Urso), largando os personagens para serem pouco a pouco engolidos pela natureza impiedosa que os cerca ou enlouquecerem de vez, ou então obsessivamente lutarem contra ela para sobreviver, às vezes de maneira inútil. Aqui, no caso, a história real e já mostrada antes por Herzog no documentário O Pequeno Dieter Precisa Voar (1997), do piloto alemão naturalizado americano Dieter Dengler (Christian Bale), que, em 1965, um pouco antes da escalada da guerra no Vietnã, é convocado com sua esquadrilha para uma missão ultra-secreta de bombardeio a alvos da guerrilha vietcongue no vizinho Laos. Seu avião é abatido, ele sobrevive, mas é feito prisioneiro no meio da selva, numa região de difícil acesso, pouca comida e vietcongues pra lá de caricatos. Além disso, é mantido numa cabana abafada, algemado a colegas um tanto desanimados, exaustos, esquálidos ou já bem louquinhos, como o Gene interpretado com todos os tiques conhecidos 'por Jeremy Davies. No entanto, a atitude positiva do sempre sorridente e engenhoso Dengler, capaz de abrir algemas, confeccionar facas e racionar a escassa comida, os motiva a tentar uma fuga arriscada pela densa selva escura e, enfim, ocultar-se nela, em momentos mais próximos aos dos emblemáticos filmes de Herzog estrelados pelo psicopata do Klaus “Aguirre” Kinski, sobretudo pelo lado demonstrativo, direto, com que a sobrevivência deles é mostrada. Até a cena da jangada à deriva no rio, de Aguirre, se faz presente aqui. Envolvente, filme conduzido sobretudo pela ótima atuação de Christian Bale, totalmente entregue ao papel e mais do que disposto a levar seu personagem ao limite, como bem teria lhe exigido o diretor, embora evitando deixar-se tomar pela loucura, mesmo nos momentos mais desesperadores, em que o olhar arregalado ou exausto de seu parceiro na fuga, brilhantemente vivido por Steve Zahn, num papel atípico, dá a exata medida do que teriam passado os soldados reais da história. Que venha agora o Rambo IV!
4 comentários:
Mais um belo texto Davizão ;) parabéns!
Que filmaço, hein? Herzog continua a filmar o meio ambiente como um Deus.
Que filmaço, hein? Herzog continua a filmar o meio ambiente como um Deus.
Daniel The Walrus
Filmaço mesmo, sobretudo porque gosto muito de filmes de fuga de prisão. E este do Herzog é um dos melhores do gênero.
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