quarta-feira, dezembro 12, 2007

Conduta de Risco

(Michael Clayton, EUA, 2007)



Mais uma vez estamos de volta à paranóia dos anos 70 com este suspense-denúncia de ritmo cadenciado e ausência quase completa de trilha sonora, em que o discreto Michael Clayton (George Clooney), ex-promotor público, é agora o responsável privado de uma grande firma de advocacia de Nova Iorque por limpar as sujeiras dos importantes clientes que representa, antes que elas atinjam as pás do ventilador da mídia, ainda que ele, endividado, com um negócio falido, filho pequeno e divorciado, não consiga dar conta da própria bagunça que é a sua vida pessoal. Nem sequer fala com o irmão alcóolatra e ex-gerente de seu negócio. Para piorar, o seu amigo Arthur Edens (Tom Wilkinson, em notável atuação), brilhante, embora maníaco-depressivo (o mais correto seria dizer que sofre de “transtorno bipolar”. Mudam-se as denominações, por uma questão semântica ou politicamente correta, mas o mal permanece igualzinho, tsc, tsc...) brilhante advogado da firma, responsável pela defesa de uma grande corporação química numa ação litigiosa, surta. Na verdade, um surto de lucidez, já que muda de lado e passa a defender as vítimas do bilionário processo, que se arrasta há anos, em que a empresa citada é acusada de contaminar os fazendeiros e seus familiares de uma região dos EUA com os agrotóxicos cancerígenos que produz. Clayton obviamente é enviado para discretamente apagar o incêndio e convencer Arthur, que tirou a roupa no meio de uma audiência e foi preso, a reassumir seu papel, para beneficio dele e da firma, obviamente. Perceberá depois que ele mesmo faz parte de um esquema em que é uma mera peça a ser manipulada e depois descartada por forças mais poderosas, quando não mais tem utilidade.

Um filme do estreante Tony Gilroy (roteirista dos filmes de Jason Bourne), de atmosfera soturna, realista, em que os embates são essencialmente verbais, com a ação, lenta, avançando por meio de ótimos diálogos e uma cuidadosa construção da trama em flashbacks, que aos poucos vão compondo um sórdido quebra-cabeça, de onde se destaca uma seqüência de assassinato feita sem cortes e assustadora em sua eficaz simplicidade e frieza. Para isso, a atuação precisa de todo o elenco, em especial Clooney, Wilkinson, Sidney Pollack, como o chefe de Clayton, e a sensacional Tilda Swinton, como uma das chefonas da firma, controladora, agressiva, impessoal, despida de qualquer lado emocional mais evidente, tendo aderido por completo às engrenagens corporativas, empresta ainda mais solidez a este belo trabalho de Gilroy.

4 comentários:

Taty Sputnik, disse...

Ah, muito legal seu blog! ^^
Vi seu perfil num comentário que você fez no blog da Tula.
Lerei bastante pelas boas dicas de filme que passa.

Aquele abraço!

Lorde David disse...

Oi, Taty. Apareça sempre por aqui, para ler e comentar. Novas visitas são sempre bem-vindas. Vou visitar no seu blog também. Um abraço.

Ailton Monteiro disse...

O legal da Tilda é que ela não ficou totalmente fria como uma mandante de assassinato. Ela sentia calafrios com suas atitudes e a atriz está fantástica mesmo.

Lorde David disse...

E é nesses pequenos detalhes, nos gestos mínimos, que percebemos onde se encontra a grande atriz. Realmente uma mulher fantástica.