(Le Voyage en Arménie, França, 2006)
O diretor marselhês Robert Guédiguian (dos ótimos Marie-Jo e Seus Dois Amores, 2002, e O Último Miterrand, 2005), de origem armênia, como atesta o sobrenome (terminado em “-an”, como Atom Egoyan e Chahnour Varinag Aznavourian, o popular Charles Aznavour), volta à terra de seus antepassados neste um tanto longo, mas interessante road movie, que narra a jornada da médica francesa Anna (Ariane Ascaride, mulher e habitual colaboradora do diretor) à Armênia em busca do pai (Marcel Bluwal), que desaparece de Marselha e teria partido para viver seus últimos dias na pátria natal, após ser diagnosticado com uma grave doença cardíaca. No país, ex-república soviética de língua e alfabeto muito particulares e a mais antiga nação cristã do mundo, com um histórico de opressão, massacres e diáspora de seu povo muito semelhantes aos infortúnios sofridos pelos judeus, aos poucos Anna vai descobrindo que não importa tanto onde está seu pai e sim onde se ocultam as suas próprias origens. No começo, tal qual uma teimosa francesa, resiste, como demonstra a cena em que, depois de ter ido à manicure, arranca as unhas postiças colocadas para se fazer parecer mais “armênia”. Porém vai-se redescobrindo, à medida que toma contato com a milenar história, sociedade, música e cultura armênias, em imagens de cartão postal e diálogos muitas vezes tirados de guias turísticos, a cargo principalmente de um general bandidão e trambiqueiro, porém charmoso (Gérard Meylan, outro fiel parceiro de Guédiguian) que a guia pelo país e, certa feita, a livra de uma encrenca daquelas com contrabandistas, traço comum em muitos dos países do Leste Europeu, que, após a derrocada do comunismo, encontraram-se dominados por máfias violentas, que comandam a prostituição e o tráfico de todo tipo de mercadoria e se escondem em inúmeros negócios de fachada na capital Yerevan. Apesar dos tipos esquemáticos, do tom panfletário à Ken Loach e das situações muitas vezes pueris, sobretudo quando o filme envereda por uma desajeitada e muito forçada subtrama policial envolvendo uma jovem cabeleireira, a chance de vislumbrar pelas telas do cinema mais uma região remota, a “terra das pedras”, cuja história remonta aos tempos bíblicos, desde Noé e o Monte Ararat, símbolo do país (embora hoje pertença aos rivais turcos) e cuja imagem emblemática, primeiro num fundo de palco pintado, depois na representação cinematográfica da montanha autêntica, abre, acompanha a protagonista em seu périplo, pontuando várias cenas importantes, e, enfim, encerra o filme. Nas imagens do Monte, Guédiguian, fazendo uso de suas costumeiras tonalidades ensolaradas, parece dizer que “o Monte está logo ali, mas não está. Não pertence a nós, embora faça parte de nós, armênios, sempre, na Armênia ou fora dela”.
3 comentários:
Quero ver é o teu texto de INLAND EMPIRE, David..hehee
Vou tentar, Ailton. Saí do meu trabalho esta semana e ainda estou meio abalado com tudo. Mas acho que vou fazer o do Jerry Seinfeld primeiro. Adorei o Bee Movie.
Vixi.. Esses tempos de demissões e pressão no trabalho não estão sendo fáceis mesmo...
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