(Brasil, 2007)
“Seguir em linha reta em direção a tudo o que amamos” é o mote deste literário e pouco cinematográfico A Via Láctea, segundo e que se quer sensorial trabalho na direção da clarinetista Lina Chamie (Tônica Dominante, 2001). No entanto, o filme segue torto, torto, com o engarrafamento paulistano e as mazelas sociais que encontra pelo caminho servindo de óbvia metáfora para o desespero existencial do protagonista Heitor (Marco Ricca), professor de literatura e literatices, que, após ter rompido com a bem mais jovem namorada por telefone (Alice Braga), decide ir ao encontro dela de carro para tentar reatar. No entanto, a longa viagem pelas entupidas avenidas de São Paulo torna tudo mais difícil e dispara nele uma série de recordações felizes ou infelizes. Além disso, o que é pior, Chamie pavimenta o caminho de Heitor com óbvias e muito pretensiosas citações literárias e musicais, como o início de A Morte e a Donzela, de Schubert, mesclada aos primeiros versos de A Divina Comédia, de Dante Alighieri, mescla já feita melhor e de modo idêntico por Robert Guédiguian em Marie-Jo e Seus Dois Amores (2002). Assim como na utilização da Lacrimosa do Réquiem K626 de Mozart, obviamente evocada quando há morte e tristeza no ar, algo já visto ou ouvido inúmeras vezes em Elizabeth, Amadeus, O Dia da Caça e tantos outros filmes. Também há poemas de Carlos Drummond de Andrade, do livro Claro Enigma, Manuel Bandeira e de Mario Chamie, pai da diretora. E um final mais do que óbvio e esperado. Uma pena, porque nas cenas em que se ouve o pizzicato do movimento intermediário da Sinfonia em Ré Menor de César Franck há certa beleza, soterrada no entanto por mais uma metáfora literária pretensiosa, forçando na poesia barata que quer buscar uma transcendência universal a todo custo, como aquela da luz das estrelas que se extinguiram mais que ainda viaja pela Via Láctea, que é também a imensidão de luzes dos faróis dos carros parados à noite no engarrafamento. Oh, que poético!
7 comentários:
A princípiom estava detestando, achando todas aquelas citações muito mal-ajambradas. Mas quando o filme termina, achei que tudo se encaixou muito bem (e mesmo o poema do pai da diretora).
E a Alice Braga, como ela está no filme?
Marcelo, eu meio que adivinhei o final, acho que por causa das obviedades das escolhas da diretora na trilha e na locução.
Ela está adorável, Ailton. Mas não aparece desnuda se é isso que você quer saber, hehehe.
Mas o final é entregue no início, não havia o que adivinhar... É que o final (a cena da mãe, por exemplo) explicita que aquela montanha de citações tinha sentido.
Entendi, Marcelo, mas mesmo assim não fiquei muito convencido com o trabalho de Chamie. Implicâncias pedantes da minha parte, especialmente com o uso de Mozart e Schubert. Um abraço.
>>>Ela está adorável, Ailton. Mas não aparece desnuda se é isso que você quer saber, hehehe.
Eu não perguntei isso..hehehe
Mas será que você não queria saber disso também, Ailton? hehehe. De qualquer forma, já adiantei.:)
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