quinta-feira, novembro 01, 2007

Go Go Tales

(Itália/EUA, 2007)



Um Abel Ferrara num registro mais cômico, menos denso que Maria (2005), por exemplo, e cuja atmosfera lembra as produções noturnas que habilmente dirigia nos anos 80, como Cidade do Medo (1984) e O Rei de Nova Iorque (1990). Sem a violência extrema desses filmes, está claro. Aqui, devendo muito (mas muito mesmo!!!) ao John Cassavetes de A Morte de um Bookmaker Chinês (1976), conta, muito no improviso e durante uma noite, os apuros de um dono de uma casa de strip tease de Nova Iorque financeiramente quebrado (Willem Dafoe), mas que mantém o cada vez mais insustentável vício de apostar grandes quantias de dinheiro na loteria, mesmo já não recebendo muitos clientes na sua espelunca. Já não tem mais dinheiro nem para pagar as suas garotas estrangeiras, todas elas com altas pretensões artísticas e que ameaçam entrar em greve. Também se encrenca com seus sócios, entre eles o irmão oxigenado (Mathew Modine), um dos gerentes, The Baron (Bob Hoskins), e, sobretudo, com a exaltada proprietária do imóvel (Sylvia Miles), que quer expulsá-lo de lá para dar lugar a uma loja de departamentos. Aposta todas as fichas no próximo sorteio da loto para levantar o lugar. Isso se conseguir encontrar depois o bilhete supostamente premiado!

Engraçado e ao mesmo tempo melancólico, pontuado por várias cenas das garotas se despindo ou exibindo outros “talentos” em cena, como a stripper “roteirista” interpretada por Steffania Rocca, que consegue financiamento para seu roteiro cinematográfico bem no meio de uma sessão privada de lap dance, filme que se passa quase que inteiramente dentro do cabaret, um ambiente ideal para transformar as mulheres em fetiches, obsessão de Ferrara. Tem também como grande trunfo a interpretação marcante de Willem Dafoe como um tipo um tanto patético, às vezes ingênuo, mas cujo carisma e certo idealismo mantêm o lugar, o clube Paradise, funcionando acima das dificuldades financeiras, além de interligar todas as figuras insólitas que lá orbitam, desde o cozinheiro especializado em cachorros-quentes orgânicos a uma dançarina que se exibe no palco com um rottweiler (Asia Argento), conduzindo todos a um final pra lá de irônico.

Sem comentários: