quinta-feira, novembro 08, 2007

Valente

(The Brave One, EUA, 2007)



Excelente filme de justiceiro às antigas, aqui vivido por uma mulher, uma radialista nova-iorquina, Erica Bain (Jodie Foster), que num passeio noturno no Central Park com o namorado (Naveen Andrews, de Lost), ambos são brutalmente agredidos por arruaceiros. Latinos, claro, que gravam tudo em vídeo e ainda roubam o cachorro do casal. O namorado morre. Ela entra em coma. Quando desperta, com medo da cidade que antes lhe parecia segura e cheia de poesia em cada esquina, passa a andar armada, embora nunca tenha atirado com uma pistola antes. E passa a disparar em delinqüentes que flagra em assaltos ou que tentam molestá-la no metrô. E, pior, passa a gostar. Tanto que, como não consegue dormir à noite, anda pelos lados escuros da cidade como se procurasse motivo para atrair e, em seguida, alvejar criminosos. Um policial (Terrence Howard, de Crash e No Ritmo de Um Sonho), divorciado, um tanto desiludido com o sistema e fã do programa de crônicas poéticas que ela apresenta sobre a cidade, investiga essa súbita onda de homicídios. Sem suspeitar, fica até fica amigo dela. Uma hora, amigo até demais.

Interpretações perfeitas da dupla de protagonistas, que carregam o filme e ajudam a tornar situações improváveis verossímeis, e um final cínico, mas certeiro, num trabalho em que o diretor Neil Jordan (Traídos pelo Desejo, Um Lance de Sorte), sem meios tons, entrega o que promete em tensas seqüências noturnas e não tem medo de parecer anacrônico nesta era de falação politicamente correta ou de relativização de ações criminosas que, no entanto, nos deixa como legado sombrio a Bósnia, o Kosovo, o Iraque, Ruanda, Darfur e, horror dos horrores, a revistinha CartaCapital, enquanto discute-se o que deve ou não ser dito ou mostrado na TV ou escrito ou filmado de forma a não ofender sensibilidades alheias, essas em geral à esquerda. Como um Fritz Lang ou um Samuel Fuller, ao atiçar os baixos instintos da platéia, que, evidentemente, torce pela heroína de moral discutível, que a cada nova morte perpetrada torna-se mais e mais segura e confiante de que é capaz de aplicar por si só a condenação e a pena capital longe da polícia e dos tribunais, desafiando-os até, como na cena em que entrevista o policial sobre seu próprio crime, Jordan desanca sem medo de ser feliz essa outra mentalidade da patota ideológica também muito discutível de nossos tempos de indefinições múltiplas, de dizer tudo para nada dizer num impasse geral sobre tudo e todos. Enquanto isso, em Darfur...

7 comentários:

Gustavo Conde disse...

Puxa, e eu que pensei que o assunto aqui era cinema...

Lorde David disse...

Mas é sobre cinema. E outras coisas também, no caso, filmes de justiceiro e Darfur. Tudo a ver. Não achas? Obrigado pela visita e pela alfinetada acadêmica, hahaha.

Anónimo disse...

Gustavo, sinta-se à vontade para visitar o meu blog também hehehe.

Ailton Monteiro disse...

È verdade que esse filme vai diretor pra dvd?

Lorde David disse...

É isso aí, Osvaldo, hehehe.

É verdade, Ailton. Tanto que nem ia vê-lo na Mostra. Quando soube no dia que a Warner cancelou o lançamento nos cinemas, corri para ver a única sessão que ainda ia ter dele na Mostra. Uma pena, porque o filme já estava com legendas impressas e tudo. :(

Ailton Monteiro disse...

Pois é. Até baixei uma versão screener dele, mas não gostei da qualidade da imagem e apaguei. Vou esperar um dvdrip.

Lorde David disse...

E pior que li que a Warner só vai lançá-lo em DVD no Brasil ano que vem. Muito decepcionante tudo isso.