quarta-feira, novembro 07, 2007

O Passado

(El Pasado, Argentina/Brasil, 2007)



O problema principal desta boa, mas parcial, adaptação do livro de Alan Pauls a cargo de Hector Babenco (que aqui faz uma ponta como um projecionista negligente), é justamente o seu protagonista, Gael García Bernal, queridinho da última Mostra de SP, onde marcou presença com três filmes. Na estória, narrada por meio de elipses, ele muda de mulher, as mulheres ao redor dele mudam, as situações mudam, mas ele continua com a mesma cara de moleque boboca na pele do tradutor e intérprete Rímini, que, após 12 anos, separa-se da mulher, Sofía, sua paixão de adolescência, conforme atestam fotografias antigas em determinado momento da narrativa. Paixão que se estendeu por tempo demais. Mas, não para ela. Logo, encontra uma substituta, uma modelo muito ciumenta. Mas, logo, logo, ela também sai da sua vida, de maneira abrupta. Arruma outra substituta, a racional Carmen, uma colega da faculdade e também tradutora. Com ela, a relação parece que vai amadurecer, pois têm um filho. Mas Sofía reaparece, como uma presença ameaçadora, dando ao filme ares de suspense, pois é visivelmente desequilibrada, e o passado, que tenta esquecer, insiste em pairar ao seu redor, levando Carmen, por causa de um incidente estúpido, a também cair fora da relação com o filho junto. E tudo outra vez de forma abrupta e mal-resolvida. Rímini entra em depressão e aprofunda a sua afasia, antes manifestada aqui e ali em lapsos de linguagem nas conferências que ajudava a traduzir. Ou seja, desaprende de vez as outras línguas que dominava, como o inglês e o francês. Também desaprende a se comunicar com o mundo, isolando-se. Até Sofía e seu passado reaparecerem, de novo, desta vez de maneira decisiva. Ou quase.

Visualmente elegante e de ritmo compassado, mas que, apesar de todas as obsessões e paixões envolvidas e revolvidas na trama como velhas e insistentes feridas, soa frio e inconsistente, dissolvendo-se nos tons neutros demais da fotografia muito composta em seus enquadramentos que se querem estilosos e que engessam o filme, limando também parte do senso de humor e das ironias que havia no livro. E também pelas limitações óbvias de Gael. A burrice de seu personagem certa feita chega a ser inacreditável e inaceitável.

2 comentários:

Michel Simões disse...

Um conjunto de mulheres surtadas!!! rs

Lorde David disse...

Sobretudo a Sofía, que, ao contrário do que indica o nome, não dispõe de muita sabedoria, hehehe.