(The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, EUA, 2007)
Além de covarde, o jovem Robert Ford (Casey Affleck, ótimo) é sobretudo um traidor. Como os personagens de outro James, o escritor Henry, em suas fantasias, Robert achava-se destinado à grandeza. E, um dia, sempre motivo de troça do irmão mais velho (Sam Rockwell, excelente), dos primos e dos conhecidos, considerou que a obteria se liquidasse seu ídolo de infância, o lendário fora-da-lei Jesse James (Brad Pitt, numa interpretação serena e plena de desencanto), cuja quadrilha, liderada por ele e pelo irmão Frank (Sam Shepard), se dispersa após o último grande assalto do bando a um trem, numa seqüência magnífica, com o comboio visto pelas árvores cortadas pelo farol da locomotiva, enquanto faz a curva nos trilhos. Jesse, vivendo escondido, sob falsos nomes, na obscuridade com a prole e a mulher, como um fantasma, doente, cansado e desconfiado de tudo e de todos, vai matando e perseguindo um por um dos seus antigos comparsas até chamar os irmãos Ford para um derradeiro roubo, que pode ser uma cilada para os dois ou uma chance para a tão esperada glória do caçula Robert, motivo de chacota também do próprio Jesse, mas também informante da polícia, que protagonizará o ato enunciado no título do filme e ainda tentará lucrar com a fama de ter liquidado o bandidão, reencenando o assassinato com o irmão centenas de vezes em apresentações teatrais por toda a América. Mas mitos adquirem uma grandeza ainda maior com a morte. E covardes não passam de covardes em vida. Baseado em romance de Ron Hansen, extraordinário faroeste de Andrew Dominik, de natureza contemplativa, andamento pausado em suas quase três horas de duração, cujo tom crepuscular lembra o Sam Peckinpah de Pat Garret e Billy, The Kid (1973), sem, no entanto, haver tiroteios espetaculares, e cuja força em cada quadro em movimento da estonteante fotografia esfumaçada ou embaçada e de tonalidades envelhecidas e fúnebres de Roger Deakins (Onde os Fracos Não Têm Vez, Fargo) o aproxima da beleza pictórica de Barry Lyndon (1975), de Stanley Kubrick, e de Dias do Paraíso (de 1978 e o mais belo filme de todos os tempos!), de Terrence Malick, além de conduzido com a necessária lentidão pelo fantástico motivo musical de Nick Cave. Pontuado por uma meditativa narração em off e um constante vai-e-vem no tempo, sem dúvida e ao menos visualmente, um dos mais belos filmes deste ano excepcional. Para o cinema e para o western, está claro.
7 comentários:
Esse eu esperava que entrasse em cartaz aqui, mas pelo visto a distribuição foi restrita.
Foi mesmo. Nem em cidades grandes do interior de SP, como Campinas e Ribeirão Preto, o filme entrou em cartaz.
O novo 'melhor faroeste da década'. ^_^
Deus, como eu quero ver esse filme...A comparação com DIAS DE PARAÍSO só aumentou essa vontade!!
É mesmo um trabalho primoroso, Leandro. O duro foi agüentar na saída do cinema gente aborrecida com a lentidão do filme comparando-o com Lendas da Paixão, tsc, tsc.
E, Daniel, se der, pretendo até revê-lo, aproveitando que os cinemas estão com ótimas promoções esta semana. A trilha também não me sai da cabeça.
David,
saí do cinema também com a sensação de ter visto um filme grandioso... Irrepreensível em todos os detalhes.
Abração
Especialmente pela beleza da trilha, Demas, que não me sai da cabeça. Um abraço e obrigado pela visita.
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