quarta-feira, novembro 28, 2007

Lady Chatterley

(Bélgica/França/Reino Unido, 2006)



A célebre narrativa literária do inglês D.H. Lawrence da paixão da nobilíssima Constance Chatterley (a adorável Marina Hands, de As Invasões Bárbaras) pelo rústico guarda-caças Parkin (Jean Louis Coulloc'h), empregado da propriedade rural do marido dela, Sir Clifford (Hippolyte Girardot), paralisado da cintura para baixo por causa de ferimentos decorrentes de sua participação como oficial na I Guerra Mundial, ganha aqui, pelas lentes de Pascale Ferran, uma leitura rigorosa, francófona, clássica, próxima em estilo ao das adaptações literárias fidedignas ao texto (e levadas pelo texto) dirigidas por Jacques Rivette. E contemplativa, sobretudo. Por chamar a atenção para a natureza, nos vários e longos passeios de Lady Chatterley pela floresta em direção à cabana de Parkin. Por contemplar com muita naturalidade, em sua longa e necessária duração, várias vezes o toque de mãos dela no corpo desnudo do empregado. E o dele no dela. Aliás, o corpo aqui é essencial. O dele, quando ela o vislumbra pela primeira vez com o torso nu banhando-se nos fundos da cabana. O dela, quando após essa visão, encantada, contempla-se depois nua diante do espelho, redescobrindo a sua sexualidade e permitindo abrir-se diante de novas possibilidades antes inimagináveis, quando enfim consumará a relação adúltera com Parkin, primeiro de maneira quase mecânica, instintiva, até o desnudamento progressivo dos dois corpos que, certa feita, correrão nus, sem pudores, libertos dos costumes e despreocupadamente pela chuva que molha a vegetação. Uma cena belíssima, vale dizer. Entre os dois predominam os silêncios e os sons da Natureza. E farão questão depois de se adornarem com flores, aproximando-se ainda mais da natureza que os circunda. Nesse momento-chave do filme, pouco importa a diferença de classes e de educação. O filme, rousseauniano, faz questão de se ater ao intercurso amoroso como forma de aproximar indivíduos de distintos backgrounds, da mesma forma que o livro de Lawrence, que aqui tem a segunda versão de seu clássico escandalosamente proibido na Inglaterra, que é conhecida como “John Thomas and Lady Jane” (em alusão aos apelidos que os amantes safadinhos dão aos órgãos genitais um do outro), adaptada para as telas.

A intimidade é progressiva, à medida que as idas de Constance (ou “Jane”?) à floresta se tornam mais e mais intensas, a paixão entre eles nasce e as complicações surgirão, claro, como o marido que demonstra sinais de recuperação, e Parkin, que volta para a esposa e sai da fazenda enquanto Constance viaja com a irmã pela Itália, até o belo desfecho, todo dialogado entre Parkin e Constance, em que Parkin, até então uma mera presença física, de poucas palavras e muita virilidade, terá o seu direito à fala alongada, num momento em que a diretora Ferran não se intimida diante do texto de Lawrence e o lança na tela quase que integralmente pela boca de Parkin, encerrando em aberto este filme formidável. Como cinema e como literatura.

2 comentários:

Anónimo disse...

Q bundinha linda... (O dela! Claro!)

Lorde David disse...

Sem dúvida, Daniel. Belo derrière o dela. Assim como os pés, as mãos, os seios, para um filme que é quase todo fetiche, mas não só, hehehe.