sexta-feira, novembro 24, 2006

O Caminho para Guantánamo

Eu não queria falar sobre este filme. Não queria nem assisti-lo. Winterbottom me cansa com sua tagarelice do tipo “um outro mundo possível” desde que filmou Código 46, com o também engajadíssimo Tim Robbins. Mas não resisti. Serei breve ou nem tanto.
O que se faz quando a guerra está prestes a explodir no país vizinho? Em vez de fugir, corre-se para ele. Essa é a brilhante idéia que ocorre a um grupo de jovens britânicos de origem muçulmana, enquanto visitam o Paquistão para acompanhar o casamento de um deles, no ano de 2001. Sabendo que as tropas da OTAN estão para bombardear e invadir o Afeganistão, esses quatro iluminados partem obstinadamente para o reduto do talibã. Mas com que propósito? Lá, fugindo dos ataques, vão parar num acampamento talibã e então são presos pelos soldados da Aliança do Norte. Um se perde e nunca mais é encontrado. Tem início o martírio dos outros três. Sob custódia dos americanos malvados, após duros interrogatórios, são levados amarrados para Guantánamo, em Cuba, onde ganham um novo corte de cabelo, novas roupas e permanecem enjaulados por vários anos, mantidos na maior parte do tempo em silêncio e sofrendo torturas e privações diversas, que inclui, entre outras cortesias do Tio Sam, ouvir música ruim a um som altíssimo. Jamais são acusados formalmente e sequer têm direito a advogado, até serem libertados em 2005. Essa jornada real, certamente cruel e injusta, é narrada com a habitual competência técnica por Michael Winterbottom (aqui dividindo a direção com Mat Whitecross) e retoma parte da temática de Neste Mundo, que também era um docudrama. No entanto, parece feito por oportunistas para agradar ao antiamerianismo militante existente no mundo e recrudescido após o 11 de setembro. Tanto que foi premiado com Urso de Prata de Melhor Direção na Berlinale 2006. Uma decisão política, claro, como ocorre vez ou outra nas escolhas do Prêmio Nobel de Literatura.
Um ótimo filme, especialmente para aqueles que descobriram agora que o mundo é um lugar injusto, que tortura é coisa feia, que Bush é um cara malvadão, que os EUA são o império do mal e para todos os leitores imparciais da Carta Capital, Carta Maior, Blog do Dirceu, The Daily Worker, Le Monde Diplomatique und so weiter. É, este mundo é mesmo um lugar injusto.

3 comentários:

Michel Simões disse...

4 antas, isso sim!!!!

Alê Marucci disse...

As críticas à atitude dos quatro garotões estão sendo mais impiodosas do que as torturas que eles sofreram, hehe.
Beijo.

Lorde David disse...

Michel, já vi antas mais inteligents.

Alê, a intenção é essa, hehehe. E eles sobreviveram às torturas e ao rock em alto volume, sobretudo. Creio que não sobreviveriam aos talebãs. Um beijo.