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quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Elizabeth: A Era de Ouro

(Elizabeth: The Golden Age, Reino Unido/França/Alemanha, 2007)



Tardio, mas com a mesma pompa, parte do elenco, figurino e circunstância do filme anterior, o diretor bollywoodiano Shekhar Kapur retoma neste drama histórico ainda mais suntuoso a saga da autoproclamada Rainha Virgem da Inglaterra, a poderosa Elizabeth I, rainha protestante, em vias de entrar em conflito com o católico Rei Felipe II da Espanha, que era, no século XVI, o mais poderoso monarca da Europa (e em guerra contra ela) e detentor de uma armada muito superior a de Sua Majestade. “Virgem” queria dizer que ela, embora não inteiramente celibatária, optou por não se casar com qualquer príncipe encantado que havia por aí, da Áustria à Rússia, o que a impedia de deixar um herdeiro legítimo para o trono e, sobretudo, formar fortes alianças políticas com outras potências, abrindo caminho para que conspiradores aliados à Espanha urdissem planos para matá-la e apoiassem a católica Mary Stuart (Samantha Morton), rainha da Escócia e prima de Elizabeth, mantida prisioneira nas terras altas, para sucedê-la no trono britânico. Numa cerimônia na corte, por um diálogo afiado e repleto de conotações sexuais, Elizabeth é apresentada a seu futuro amor não-correspondido na História, o galante e aventureiro Sir Walter Raleigh (Clive Owen), explorador do Novo Mundo que se envolve romanticamente com a dama de corte da rainha, também chamada de Elizabeth (a bonita loirinha Abbie Cornish, de Candy), e também, contra a sua vontade, com urgentes questões de Estado, prestes a entrar em guerra. Detida a conspiração, debelada por fiel ministro Sir Francis Walsinton (Geoffrey Rush), não se consegue deter, porém, o ímpeto fanático com que a armada do rei espanhol avança para invadir as Ilhas Britânicas. Com esplêndida fotografia, procurando sempre colocar a rainha, magnificamente (re)vivida pela bela ruiva Cate Blanchett, no centro do quadro fílmico nas cenas mais cerimoniais, ou mostrando-a bastante vulnerável e humana em contraste com a solidez dos gigantescos arcos góticos de seu palácio, onde é filmada quase sempre sozinha, além dos esmerados figurinos habituais de época e conduzido de maneira até que absorvente e tradicional pelo limitado Kapur, um filme cuja história sai um pouco dos corredores de uma corte sufocante do primeiro filme para abrir-se a momentos de pura aventura, como na batalha naval no final, e com direito antes a discurso de apoio às tropas enunciado pela própria rainha, eloqüentemente montada num cavalo, que, elegante e soberana, nunca se deixa abalar. E será que este ano teremos outra Rainha ganhando Oscar? By Jove, God save the Queen!

terça-feira, outubro 30, 2007

I'm Not There

(EUA/Alemanha, 2007)



Poética. É palavra incontornável e difícil de tirar da cabeça depois de se assistir a essa deslumbrante cinebiografia anticonvencional, fragmentada, de Bob Dylan, o trovador judeu da América profunda. Homem de muitas fases, nomes e, principalmente, faces. Não à toa, ele é interpretado aqui por vários atores, em diferentes texturas e colorações de película, desde a infância como um menino negro prodígio no blues, viajante clandestino nos vagões de carga pelo interior dos EUA (Marcus Carl Franklin), poeta beatnik e homem de família (Heath Ledger), “homem” de Londres (Cate Blanchett), no divertido e rápido encontro com os Beatles, pregador evangélico (Christian Bale) até a participação como um fora-da-lei (Richard Gere) no western crepuscular de Sam Peckinpah, Pat Garret e Billy the Kid (1971), como cowboy da contracultura, sem raízes, sem nome, à margem de tudo e de todos e sempre viajando sem rumo (“No Direction Home”). Por isso, a imagem da estrada, do trem rasgando as pradarias, algo tão americano, é sempre recorrente neste trabalho de Todd Haynes (Velvet Goldmine, Longe do Paraíso). Mas, é a banda sonora, obviamente rica de composições e poemas de Dylan, que conduz o filme por seus diferentes estágios e caminhos, de maneira nunca linear, sobrepondo o homem ao mito junto ao turbulento contexto político dos anos 60 e 70. Para ser visto, ou melhor, sentido várias e várias vezes.

terça-feira, março 06, 2007

Notas Sobre um Escândalo

(Notes on a Scandal, Reino Unido, 2006)



Numa sociedade de desejos reprimidos, como a britânica, o escândalo do título virá, de uma forma ou de outra, neste drama intimista, adaptado por Patrick Marber (Closer) de romance de Zöe Heller, em que uma veterana professora de História, a solitária Barbara Covett (Judi Dench), afeiçoa-se obsessivamente pela colega recém-chegada numa escola reformista de Londres, Sheba Hart (Cate Blanchett), e que vai ensinar Artes Plásticas. Descobrirá que ela, uma “burguesa boêmia”, casada com um homem bem mais velho (Bill Nighy) e mãe de dois filhos, um deles portador de Síndrome de Down, está tendo um caso com um dos alunos (Andrew Simpson), de 15 anos, e em vez de delatá-la para o diretor, para o qual não tem a mínima simpatia, guardará a informação para si de forma a manipular Sheba e se aproximar ainda mais dela, com desdobramentos dramáticos para todos os envolvidos. “Estamos unidas por um segredo que dividimos”, Barbara sentenciará certo momento, provocando o dilaceramento a partir da palavra, sutilmente enunciada. Mas também pagará por isso.

Narrado a partir das páginas do diário de Barbara, num tom ora amargo, ora irônico, mas sempre contundente, pela direção precisa de Richard Eyre (Iris, 2001), o suspense progride de forma envolvente, apoiado pelo trabalho de um elenco excepcional, com duas atrizes esplêndidas, como sói acontecer no cinema britânico, e pela música de Philip Glass, que há tempos nunca se encaixara tão bem na narrativa como aqui, dando mais fluência ao andamento concentrado da história. Como na série para piano Metamorphosis, escrita nos anos 80, ou nas trilhas sonoras que compôs para Koyaanisqatsi (1982), Mishima (1985), Kundun (1997) ou Roubando Vidas (2004), Philip Glass tem feito o mesmo tipo de música estruturada na repetição de pequenos trechos melódicos ou rítmicos, com pequenas variações através de grandes períodos de tempo, e sutis modulações harmônicas, dando ao ouvinte a sensação de hipnose ritualista, num contínuo fluxo de vai-e-vem. Na cena final do filme, por exemplo, após a eclosão do escândalo, a composição de Glass assinala que tudo voltará a ocorrer, com novas vítimas, inocentes ou não, e novas páginas do diário de Barbara serão preenchidas. De novo, de novo e de novo.