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quarta-feira, março 26, 2008

O Sinal

(La Señal, Argentina, 2007)



Após a morte de Eduardo Mignogna, que escreveu o roteiro, baseado em seu próprio romance, o sempre competente ator Ricardo Darín ( Nove Rainhas, O Filho da Noiva, XXY), com a ajuda de Martin Hodara, assumiu bem a direção deste curioso O Sinal, um noir portenho de atmosfera fúnebre, já que se passa em lugares mais lúgubres da Buenos Aires dos anos 50, tendo como pano de fundo a agonia de Evita Perón. Enquanto os argentinos rezam por sua saúde debilitada, em flashback, o cínico detetive particular Corvalán (o próprio Darín) é contratado por uma sedutora e misteriosa mulher (Julieta Díaz) para seguir um sujeito suspeito, apesar dos avisos contrários de seu sócio Santana (Diego Peretti, de Tempo de Valentes), que desconfia que uma mulher dessas, uma femme fatale, é sinal de encrenca na certa (aliás, qualquer mulher traz encrenca, hehehe). No entanto, o cara aparece morto, e Corválan, antes mais acostumado a lidar com casos de infidelidade conjugal e de animais de estimação desaparecidos, agora passa a ser perseguido por mafiosos da pesada, vendo aumentar a cada dia a contagem de cadáveres ao seu redor. Ou seja, mergulha no inferno comum a muitos detetives de filmes noir de outrora.

Trama previsível e sem novidades, com as esperadas reviravoltas, traições e enfrentamentos no final, mas a atmosfera bem construída e a boa dinâmica entre a dupla central de detetives, na pista de corrida de cavalos, nos cafés e num jogo de sinuca, entre outros lugares - dinâmica essa levada até o último plano -, garantem o interesse deste filme, que é discreto, tem andamento cadenciado e atento aos detalhes em sua precisa reconstituição de época, reverente do início ao fim ao gênero. Mais um ponto para os argentinos.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

XXY

(XXY, Argentina/Espanha/França, 2007)



Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
(Luís Vaz de Camões)

Hermafrodita, Alex (Inés Efron) foi criada como menina pelos pais, que, pouco depois de seu nascimento, para protegê-la, mudam-se da Argentina para uma casa afastada no litoral do Uruguai, onde o pai, Kraken (Ricardo Darín), trabalha como biólogo marinho. Adolescente, Alex toma corticóides para inibir o aparecimento de atributos masculinos, como barba ou o engrossamento da voz. Isso não impede que seja vista como curiosidade “freak” pelos locais, tipos rudes e às vezes violentos. Na praia, seus pais, ainda não decididos a operá-la de vez, recebem a visita de um casal de amigos de Buenos Aires, acompanhado de seu feioso filho de 16 anos, Álvaro (Martín Piroyansky). O pai, Ramiro (German Palacios), é um cirurgião estético renomado e especializado em corrigir deformações físicas. Ou, melhor dizendo, em “normalizar” as pessoas, e aceitou o convite vendo potencial em Alex como um interessante caso clínico. Ela (ou ele), no entanto, refuta em continuar tomando os medicamentos e avança sexualmente sobre o tímido Álvaro, de modo bastante agressivo, masculinizado até. Basta o desejo surgir, ainda mais nessa idade, que os conflitos afloram. Ela entra em conflito com o corpo e com a própria sexualidade, deixando também seu pai, que sempre a viu como uma “criatura” perfeita, tendo-a criada como tal, tão ou mais confuso que ela na hora de decidir se a opera ou não.

Enxuto drama argentino de texturas naturalistas, como bem demonstram suas primeiras imagens captadas no fundo do mar, enfocando evoluções de criaturas marinhas (Alex seria também parte monstro?), além do nome do pai biólogo, “Kraken” (como o polvo gigante de Piratas do Caribe, hehehe), acostumado a classificar espécies aquáticas de acordo com o sexo, cor, etc., conduzido com sobriedade por Lucía Puenzo, filha do cineasta Luiz Puenzo (de A História Oficial), que, epidérmico, evita os malabarismos formais e o moralismo ou o psicologismo rasteiro, além das boas interpretações da andrógina Efron, muito bem como Alex, nunca fragilizando-se ou masculinizando-se em excesso, e do sempre confiável Ricardo Darín (Nove Rainhas, O Filho da Noiva, O Clube da Lua, A Aura), ainda que os outros personagens femininos da trama não sejam tão bem desenvolvidos. Mas não importa, pois, no geral, o filme é bom.