Antes de Azul é a cor mais quente (Vie d´Adele, 2013), um outro filme, também francês (embora falado em inglês e passado na Inglaterra), ganharia a Palma de Ouro de 2001 em Cannes com sequências explícitas de sexo que, claro, não deixariam de causar polêmica e custariam a carreira da excelente atriz Kerry Fox (Um anjo em minha mesa, 1990, de Jane Campion), hoje renegada a papéis secundários. O longa de Patrice Chéreau, grande encenador teatral francês e diretor do maravilhoso épico sanguinolento A Rainha Margot (1994), investe no despojamento, na desglamourização, nos tipos londrinos comuns de sotaque cockney, sem corpos ou rostos exuberantes, para narrar a história de um barman (Mark Ryllance) que mora num sujo apartamento, numa região triste de Londres e semanalmente mantém em sua casa relações sexuais com uma mulher sobre a qual sabe muito pouco a respeito (Fox), à maneira de O último tango em Paris (1972). Um dia, resolve segui-la e fica sabendo que ela é casada com um taxista (Timothy Spall, gordo, feio e ótimo), tem um filho e atua em produções amadoras de teatro. Em flashbacks, ficamos sabendo que ele, um ex-músico, havia sido casado e um dia resolveu abandonar a mulher e os dois filhos, sem motivo aparente. Entre ele e o marido de sua amante, uma estranha cumplicidade se estabelece, não menos reveladora. E a "intimidade" dos dois amantes, feita de silêncios, respirações ofegantes e breves, às vezes brevíssimos, intercursos sexuais, se vê ameaçada, quanto mais ele tenta conhecer a vida dela e adentrar em seu mundo. Apesar do despojamento, da proximidade da câmera de Chèreau (recentemente falecido) dos rostos e dos corpos dos atores, da ambientação realista, o tom carregado de alguns diálogos, ditos num tom acima do desejado, muito próximo ao da representação teatral que do cinema, acaba prejudicando a proposta naturalista do filme, tornando-o artificial e "afetado" em alguns momentos. Ainda assim, um belo (e antierótico) filme sobre as diferenças muitas vezes inconciliáveis entre amor, sexo e intimidade, e o lado humano de tudo isso, com os filhos e a banalidade da vida conjugal.
Wer sich der Einsamkeit ergibt ("Aquele que se entregou à solidão") - Goethe
sexta-feira, dezembro 13, 2013
Intimidade (Intimacy, 2001)
Antes de Azul é a cor mais quente (Vie d´Adele, 2013), um outro filme, também francês (embora falado em inglês e passado na Inglaterra), ganharia a Palma de Ouro de 2001 em Cannes com sequências explícitas de sexo que, claro, não deixariam de causar polêmica e custariam a carreira da excelente atriz Kerry Fox (Um anjo em minha mesa, 1990, de Jane Campion), hoje renegada a papéis secundários. O longa de Patrice Chéreau, grande encenador teatral francês e diretor do maravilhoso épico sanguinolento A Rainha Margot (1994), investe no despojamento, na desglamourização, nos tipos londrinos comuns de sotaque cockney, sem corpos ou rostos exuberantes, para narrar a história de um barman (Mark Ryllance) que mora num sujo apartamento, numa região triste de Londres e semanalmente mantém em sua casa relações sexuais com uma mulher sobre a qual sabe muito pouco a respeito (Fox), à maneira de O último tango em Paris (1972). Um dia, resolve segui-la e fica sabendo que ela é casada com um taxista (Timothy Spall, gordo, feio e ótimo), tem um filho e atua em produções amadoras de teatro. Em flashbacks, ficamos sabendo que ele, um ex-músico, havia sido casado e um dia resolveu abandonar a mulher e os dois filhos, sem motivo aparente. Entre ele e o marido de sua amante, uma estranha cumplicidade se estabelece, não menos reveladora. E a "intimidade" dos dois amantes, feita de silêncios, respirações ofegantes e breves, às vezes brevíssimos, intercursos sexuais, se vê ameaçada, quanto mais ele tenta conhecer a vida dela e adentrar em seu mundo. Apesar do despojamento, da proximidade da câmera de Chèreau (recentemente falecido) dos rostos e dos corpos dos atores, da ambientação realista, o tom carregado de alguns diálogos, ditos num tom acima do desejado, muito próximo ao da representação teatral que do cinema, acaba prejudicando a proposta naturalista do filme, tornando-o artificial e "afetado" em alguns momentos. Ainda assim, um belo (e antierótico) filme sobre as diferenças muitas vezes inconciliáveis entre amor, sexo e intimidade, e o lado humano de tudo isso, com os filhos e a banalidade da vida conjugal.
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