
Não adianta. Tsui Hark, auteur de um dos filmes de ação mais legais de todos os tempos, O Tempo e a Maré (2000), não se dá bem com efeitos digitais. Nem com a Miramax, sobretudo. Os melhores confrontos de seus filmes são puramente físicos, como a espetacular perseguição de rapel em O Tempo, ou as piruetas de Jet Li sobre os ombros de seus oponentes em Era uma Vez na China (1991). Em momentos assim, sua câmera enlouquece. E as tramas de alguns de seus filmes, por demais complexas, quando não confusas mesmo, movendo-se sempre num ritmo acelerado, são ainda mais prejudicadas quando cortadas por imposição de produtores, como é o caso de Sete Espadas (2005). E como é o caso deste Os Protetores do Universo, que retoma o universo de seu clássico wuxia Zu: Warriors of the Magic Mountain (1982), baseado numa lenda "real", acrescida de efeitos digitais irreais, em uma narrativa truncada, obviamente encurtada por exigência da produtora Miramax para o mercado estrangeiro. O que resta é uma sucessão confusa de lutas típicas do universo wuxia, em que guerreiros voadores mitológicos, liderados pelo sábio Sobrancelhas Brancas (Sammo Hung), têm que unir suas espadas para enfrentar uma grande força maligna conhecida como Mordo, que está sugando a energia da montanha de Zu, de onde os guerreiros protetores tiram a força para combater as ameaças do mal. Uma confusão completa, apesar de algumas boas lutas coreografadas por Yuen Woo Ping (Matrix, Herói, O Tigre e o Dragão), quando os guerreiros de nomes Falcão, Lua ou Tempestade não estão voando diante de um cenário computadorizado, por exemplo, ou traindo uns aos outros sem maiores explicações, uma ou outra imagem bela (como a guerreira Lua se despedaçando) e Sammo Hung (o único remanescente do filme original), Ekin Cheng, Kelly Lin, Cecilia Cheung e a fofinha Zhang Ziyi perdidaços em meio às várias seqüências digitalizadas. Ao menos, não é tão ruim quanto o horrível A Promessa (2005), de Chen Kaige. Quem sabe numa versão estendida, quem sabe.