
Formalmente semelhante ao seu anterior Justiça (2004), a diretora Maria Augusta Ramos volta com ainda mais rigor a abordar a questão judical no Brasil. Só que aqui, em vez das Varas Criminais, aponta a sua demonstrativa e discreta câmera para audiências com menores infratores, julgados com severidade por uma espalhafatosa e moralista juíza da Vara da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro, chamando especial atenção para o abismo que separa o réu, em geral preto e pobre, das decisões e argumentos dos assim chamados operadores da lei (defensores públicos, promotores, juízes, etc.), durante os julgamentos bastante rápidos. Abismo sobretudo lingüístico, pelo jargão bacharelesco empregado pelos doutores e meritíssimos, cujas sentenças são recebidas com visível apatia pelos infratores, que parecem pouco entender o que é dito ali ou o significado de tais decisões para as suas vidas. Infratores substituídos, no contraplano, informa o filme logo no começo, por jovens não-infratores, já que a lei não permite que menores infratores sejam identificados, mas que passam pelas mesmíssimas condições sociais às dos personagens reais, breves encenações que nada prejudicam na veracidade do que é mostrado neste bom docudrama, já que todo o resto é bem real, especialmente o olhar de desalento dos familiares dos réus ou as conversas em tom jocoso entre os bacharéis após cada sentença proferida. Ao mesmo tempo, intercalam-se as audiências com imagens da instituição para onde são encaminhados muitos desses jovens, cujas precárias instalações pouco diferem das prisões convencionais, sobretudo pela maneira como são amontoados nas celas. Não admira muitos fugirem de lá depois. Mas, no fim, todo julgamento ou "juízo" dos absurdos e distorções aqui mostrados contra o menor (e permitidos pela severidade da anacrônica e desproporcional da lei brasileira) fica mesmo a critério do espectador.