terça-feira, junho 24, 2008

Fim dos Tempos

(The Happening, EUA, 2008)



No lugar de um terremoto, um monstro, alienígenas exterminadores ou de uma onda gigante produzida por computador, devastando e arrasando grandes metrópoles americanas, uma brisa que balança as árvores de um parque. Suave vento, o “nada”, que, no entanto, carrega estranha toxina que provoca uma súbita e inexplicável onda de suicídios em massa, da qual fogem um professor de ciências (Mark Wahlberg) e sua mulher (Zooey Deschanel), ambos perplexos com “o acontecimento” do título original e, sobretudo, em crise no casamento. Assim é o Apocalipse de M. Night Shyamalan (O Sexto Sentido, Corpo Fechado, Sinais, A Vila): antediluviano e, principalmente, anti-hollywoodiano em sua simplicidade. Ainda assim bastante atmosférico e sugestivo, na discreta elegância com que constrói climas melancólicos e ameaçadores, fazendo uso de pouquíssimos elementos (arbustos balançando, capim ao vento, etc.), apesar do tolo subtexto ecológico e explicativo ao final, mas que se mostra, felizmente, insuficiente para dar conta da dimensão da catástrofe, que, mais do que ecológica, é inerente à outra natureza, a humana, no tocante à falência dos afetos, das relações entre os indivíduos, da desagregação familiar, etc. Algo tão devastador e bem mais palpável que uma catástrofe tipicamente hollywoodiana.

4 comentários:

Ailton Monteiro disse...

Pelo visto, parece que a intenção principal do filme está mesmo em fazer uma reflexão sobre o distanciamento das pessoas e o cada vez mais presente fantasma da solidão.

Anónimo disse...

David, adorei "Fim dos Tempos". É uma Havaiana perto de “A Vila" e "O Sexto Sentido", mas novamente me tornei vítima do imenso talento de Shyamalan ao criar um clima aterrador e até mesmo com os bons momentos de humor que se conectam bem com as suas propostas de homenagens aos filmes B. Sem dizer que não é qualquer diretor que é capaz de tornar uma ventania um "vilão" tão arrepiante como testemunhamos.

Alex Gonçalves
Cine Resenhas

André Renato disse...

Acho que a discreta elegância acontece sim, mas só em alguns momentos (na tentativa de mostrar o nada que mata, eis o melhor do diretor), mas o filme peca pelo discurso moralizante nem um pouco discreto, e pelos sustos que seguem sempre a mesma formulazinha... Sei não quanto a esse filme! Abraços!

pseudo-autor disse...

Todo mundo tentou puxar o pé do Shyamalan pra baixo e mais uma vez não conseguiram derrubar o cara (que provou ser um grande cineasta mais uma vez). Fim dos Tempos é gritante, sufocador e, principalmente, afiado como uma navalha em sua crítica ácida a uma sociedade cômoda que está deixando o planeta morrer dia-a-dia.

Discutir a imprensa?
http://robertoqueiroz.wordpress.com